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LÍNGUA PORTUGUESA / Maria Tereza de Queiroz Piacentini

Foto: Reprodução

Um dos que sofrem ou sofre?

P – É um dos lugares que mais sofreram ou é um dos lugares que mais sofreu com as chuvas. Construções como estas ouve-se com frequência em jornais de TV.” G. G., São Paulo/S

P – É uma das obras que o lançou… Pergunto se aqui também pode ser aceito o plural? Quando tiver a expressão uma das e também quando tiver o sentido de obra literária. É o mesmo critério de um dos que?” Paulo, Rio de Janeiro/RJ

R – São comuns na língua portuguesa as duas construções. A escolha pelo verbo no plural (que é tida como a sintaxe mais recomendável) ou no singular reside primordialmente na ênfase que se quer dar ou ao conjunto ou a um só elemento, isto é, à ação feita por um só indivíduo ou por muitos/alguns, como se observa nos exemplos: Sanga do Leste é um dos lugares que mais sofreram com as chuvas. Recomendo a leitura de “Intimidades”, uma das obras que lançaram Dorothy. Pita foi um dos [políticos] que mais falaram na reunião. O linho é um dos tecidos que estão em alta nesta estação. Sanga do Leste é um dos lugares que mais sofreu com as chuvas. Recomendo a leitura de “Intimidades”, uma das obras que a lançou. O linho é um dos tecidos que está em alta nesta estação. Foi desativada uma das maiores quadrilhas que atuava em Divinópolis.

O linguista e gramático Celso Luft explicou o uso do singular como “uma regra elementar de sintaxe que manda suprimir termos repetidos (persistem na mente, mas podam-se na frase)”. Isso significa que, por exemplo, em vez de dizer “o linho é um tecido que está em alta entre os tecidos que estão em alta nesta estação”, dizemos simplesmente “o linho é um dos tecidos que está em alta nesta estação”.

Há, contudo, uns poucos gramáticos e professores que receitam o uso do plural apenas, desqualificando uma prática secular de emprego do predicado no singular. Rui Barbosa, entre outros estudiosos da língua, defendeu a construção com verbo no singular, já que ele exprime “o fenômeno da atração do verbo de uma sentença pelo sujeito de outra” (1986, nota 192, v.I, p.334), e apresenta inúmeros exemplos clássicos, dos quais extraio três: “Ele foi um dos que muito contradisse a el-rei.” (Fern. Lopes) “Uma das cousas que derrubou a Galba do império foi tardar…” (M. Bernardes) “Na Ásia foi um dos governadores que mais impulsionou a queda do império índico.” (Camilo Castelo Branco) Aponta ainda Rui Barbosa que em quase todos os trechos transcritos por ele “a ação é exercida por muitas entidades, e, não obstante, o verbo está no singular” (ibid.).

E Said Ali (apud Luft, Mundo das Palavras n. 2.313, s/d) fez ver que esse fenômeno se observa em grego, latim, francês, espanhol, inglês e alemão. Celso Luft aproveitou a deixa para ironizar: “Os clássicos e todas essas línguas deveriam ter esperado pelos dois filólogos* portugueses para acertarem a sintaxe?” [*referia-se a Epifânio Dias e Vasco B. de Amaral, que só admitiam o plural] Como em português o caso não é novidade nem ilógico, aceitemos as duas maneiras de expressão!

MARIA TEREZA DE QUEIROZ PIACENTINI, diretora do Instituto Euclides da Cunha – www.linguabrasil. com. br

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