Língua Portuguesa

13 de maio de 2023

Maria Tereza Piacentini

Verbos pronominais

Recebemos algumas consultas sobre o uso dos pronomes reflexivos me, te, se, nos junto com verbos tradicionalmente pronominais como os do título. Há mesmo necessidade de usá-los? Ou seja, o correto é ela casou ou ela se casou? Sentou-se ou sentou um minutinho?

Ao pesquisar em dicionários (comuns e de regência), descobre-se que há possibilidades diversas; já existe um aval para a eliminação, mesmo no nível culto, do pronome reflexivo junto com os verbos citados (salvo divorciar, que sempre é apresentado como pronominal: divorciar-se). Isso quer dizer que é facultativo o uso do pronome nestes casos:

Casar – Jucira anunciou que vai (se) casar. Casei(-me) cedo. Li que Mara vai (se) casar com Mauro. Pedro e eu vamos (nos) casar brevemente.

Sentar – Jucira preferiu sentar(-se) no sofá. Sentei(-me) e descansei um minuto. Chegamos cedo e (nos) sentamos à mesa principal.

Mudar – Jucira vai mudar(-se) para outra casa. Resolvi (me) mudar para Timbó. Decidimos que (nos) mudaríamos daqui tão logo saísse a aposentadoria.

Mesmo no caso do verbo divorciar-se há uma tendência – por contaminação sintática, pois as construções linguísticas se cruzam, se mesclam, se interinfluenciam – a suprimir o pronome, de que é prova a declaração à revista Istoé, em maio de 2005, da nossa grande escritora Lygia Fagundes Telles: “Divorciei, casei outra vez, com o Paulo Emílio Salles Gomes”.

O cuidado que se deve ter, para que o texto seja considerado bom e agradável de ler, é com a clareza em primeiro lugar. Por exemplo, se você escreve “finalmente resolvi mudar”, não se sabe qual o sentido: mudar o quê? Portanto, se for deslocamento de um lugar para outro, escreva “finalmente resolvi me mudar”.

Depois vem a sonoridade da frase – muitas vezes “nos mudamos” soa melhor do que “mudamos”. Isso significa que não é preciso haver uniformidade, isto é, empregar o pronome todas as vezes ou suprimi-lo sempre. Pode-se variar no caso dos verbos casar, sentar e mudar, conforme a clareza ou sonoridade que se deseja.

No mais, é recomendável usar os pronomes reflexivos sempre que a situação o exija. É melhor e mais culto falar “ele se formou na USP” do que “ele formou na USP”, só para dar outro exemplo.

Oblíquos

Quando se empregam em sequência dois verbos usados com pronome proclítico, as duas formas ou modelos são corretos: se batem e se opõem ou se batem e opõem. O mais estilístico, porém, é não repetir o pronome oblíquo quando este vem anteposto ao primeiro verbo: Aqueles dois se batem e opõem. Ele se rasgava e desfazia em elogios. As células se expandiram e modificaram. Nós o vimos e saudamos com efusão.

MARIA TEREZA DE QUEIROZ PIACENTINI, diretora do Instituto Euclides da Cunha – www. linguabrasil. com. br