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Lenda de um amor

Foto: Reprodução

SILVIA HELENA REIS

Conta-se que numa floresta bem longe, mas bem longe daqui viviam duas tribos. Duas tribos que não se conheciam e nem se odiavam. Apenas não se conheciam. Uma vivia do lado de cá da Lua e a outra do lado de lá do Sol. E entre elas havia uma bela montanha. E dessa montanha escorria um riacho todo pomposo, todo espumante, feito champanhe francês. Descia por entre as pedras com suas águas cristalinas e cantantes.

Na tribo que vivia de cá da Lua, Esmeralda uma linda índia mocinha penteada seus cabelos pensando como seria do lá de lá do Sol.

Na tribo do lado de lá do Sol, um jovem Índio Valente vivia pensando como seria   a vida do lado de lá da Lua.

E o riacho vivia entediado pois tudo era sempre igual. Nenhuma novidade acontecia.

Até que um dia uma grande chuva carregou em suas águas turbulentas o pente mágico que a bela Esmeralda penteava seus cabelos. E ela desesperada deixou o lado de cá da Lua e foi a procura de seu adorado pente.

Do lado de lá do Sol a chuva  rolou as águas levando a flecha do Índio Valente rumo ao riacho da montanha.

Enquanto isso, no riacho, as águas, até então serenas, se avolumavam levando pedras miúdas e pequenos insetos. Folhas desavisadas desciam as águas deixando pequenas ramagens florais que faziam mais belo o local.

Nas águas do lado de cá da Lua uma flecha brilhante ancorou-se junto a margem causando espanto à Esmeralda.

Nas águas do lado de cá do Sol, Guerreiro Valente se surpreendeu com tão delicado e colorido objeto feminino que se apresentou boiando sobre as águas.

Ao subir o riacho o Índio Valente encontrou Esmeralda. Os jovens logo se encantaram um com o encontro. Esmeralda ainda tentou fugir, mas ao ver seu pente encantado nas mãos de Índio Valente, caminhou em sua direção com mãos estendidas a pedi-lo de volta.

Índio Valente também queria sua flecha e logo se entenderam com a troca dos objetos.

Índio Valente convidou a jovem para conhecer sua tribo. Esmeralda sentiu um breve tremor ao lembrar que seu pai nunca deixaria aquela amizade acontecer. Ela já estava prometida ao Índio Guerreio que ele escolhera para ela.

Decidida despediu-se do amado prometendo voltar ao riacho na próxima Lua Crescente.

E assim muitos encontros aconteceram. Um amor poderoso tomou conta dos dois jovens que a cada encontro se fortalecia mais.

Mas um dia Índio Guerreiro resolveu seguir sua prometida para ver onde ela ia todas as tardes.

Esmeralda de nada desconfiou, indo ao encontro daquele que seu coração amava.

Índio Valente tomando-a em seus braços a beijou com todo seu amor.

O riacho, testemunha de todos os encontros, cantava em suas águas toda a beleza daquele encontro.

Índio Guerreiro sentiu a bravura tomar conta de todo seu corpo e transformar-se em ódio e desespero. Não iria sobreviver a tamanha desonra e humilhação.

Ali mesmo tirou sua flecha e aproveitando o encantamento dos amantes atirou no Índio Valente tirando-lhe a vida.

Esmeralda louca de dor e espanto não entendia o acontecido.

Índio Guerreio enterrou Índio Valente do outro lado do rio para que ficasse longe de Esmeralda. Levou Esmeralda de volta a aldeia e casou-se com ela.

Mas, os olhos de Esmeralda nunca mais sorriram. Toda Lua Crescente ela visitava o riacho para chorar por seu amor que ali ficara.

Conta-se que suas lágrimas tem o poder de ressuscitar o índio que atravessa o rio para vir abraçá-la e viver assim momentos de muito amor e alegrias.

Assim conta a lenda.

SILVIA HELENA DOS REIS, escritora e contadora de histórias. Membro da Academia Feminina Sul-Mineira de Letras e da Associação Cultural dos Escritores de Passos e Região, cujos associados se revezam na autoria de textos desta coluna aos sábados

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