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Leitor

CPI do MST

Ontem, dia 12, quarta, assisti, mais uma vez, o filme Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos. É forte; põe em relevo a triste saga de retirantes nordestinos, acossados pela fome ao meio de terras secas; difícil não se emocionar. À época da realização do filme, impulsionava-se no Governo de então um projeto nacional de reforma agrária para alocar os trabalhadores rurais, os colonos que foram expulsos das terras onde moravam, tirados dali pela modernização da agricultura, e os que fugiam das longas estiagens no nordeste. A revolução militar de 1964 veio frustrar as esperanças de centenas de milhares de pobres famintos que foram se amontoar nas periferias das cidades, nascendo daí as favelas e a imensa pobreza.

Agora, tem-se ótima oportunidade de trazer à baila a discussão sobre o tema, com a constituição de CPI do MST, na Câmara; pode-se voltar à discussão da relevante questão. Estudos tem indicado que a fome tem como uma das suas principais causas a má distribuição de terras.

Os latifúndios, sabidamente, na agricultura moderna e automatizada, proporcionalmente ao capital que representam suas terras oferecem pífia ocupação. Empregam poucas pessoas, com alguma qualificação. Por outro lado, as médias e pequenas propriedades geram razoável renda aos seus detentores e não se exige deles qualquer formação profissional; a afetação de terras aos desempregados seria uma solução valiosa para eles, inaptos e de baixa escolaridade para as atividades da economia moderna.

Deus, não fosse onisciente, ficaria surpreso com nosso Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas que conta com dezenas de milhões de famintos. Mas Ele sabe: a fome não vem da escassez de alimentos, mas da falta de recursos; que, por seu turno, devem ser produto do trabalho. A vocação da terra é gerar vida e mantê-la; nada é criado fora deste mundo; todos os seres vivos somos gerados aqui; nos alimentamos exclusivamente do que aqui se produz.

Por isso que o apossamento de terras há antes de tudo de ter um viés social; não podem ser tratadas como reserva de valor, como ouro, dólar; um hedge para as incertezas do mercado financeiro. E que não seduza o sucesso econômico do agronegócio, a justificar o latifúndio; além de serem produtivas as pequenas propriedades dão alta ocupação, de familiares ou não, nas suas atividades.

Raul Moreira Pinto – Passos/MG

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