CAROLINA DELBONI
A discussão sobre “família” ganhou força e espaço nos últimos anos, tanto nas rodas de conversas sociais quanto na política brasileira. Há os que são a favor da “tradicional família”, os que têm os valores da religião como sinônimo de amor e acreditam que família se constitui com um homem, uma mulher e filhos.
Mas há os que acreditam – e batalham – pela liberdade do amor. Os que são a favor de famílias que possam ser constituídas da maneira que for mais adequada a cada um. Não importa se é uma relação homoafetiva ou hetero, se é um relacionamento aberto ou fechado, se é monogâmico, se terão filhos. Aqui, prevalece a crença no amor.
E o que pensam os jovens? Os “tais” que mães, pais, escolas, indústrias dos mais diversos segmentos, marcas, enfim, a sociedade como um todo está de olho neles: os jovens da Geração Z. O que pensam eles sobre família?
Uma geração que cresce muito mais livre de preconceitos e aberta a experimentações que seus pais. Nascidos entre 1997 e 2010, eles têm entre 12 e 25 anos, são os chamados nativos digitais. São também os que desejam e lutam por um mundo com menos barreiras e menos preconceitos. Acreditam na liberdade e na possibilidade do amor e também respeitam as diversidades de identidade de gênero. São plurais.
Só que a mesma geração “cabeça aberta”, que adora quebrar um paradigma, também acredita no casamento à moda antiga, com papel passado em cartório e morando sob o mesmo teto. Do jeitinho que seus pais e avós fizeram. Pelo menos esse foi um dos dados revelados pelo estudo Movimentos Geracionais, conduzido pela HSR Specialist Researchers. Mas o que significa casar à moda antiga para eles?
Segundo o levantamento realizado em 2022, praticamente 76% dos jovens desejam morar com seu par. Entre eles, 57% querem casar no papel com os dois morando na mesma casa e 19% desejam uma união sem papel passado. Apenas 8% sonham com uma relação estável em que cada pessoa mora em locais diferentes, 9% não querem ter um relacionamento firme e 8% projetam ter uma relação aberta ou poliamor.
Vale destacar que, para o estudo, foram entrevistadas duas mil pessoas de todas regiões do Brasil, sendo 19% representadas pela Geração Z, 54% de grupos femininos e 46%, de masculino.
Entre outros mitos e verdades sobre esses jovens, observou-se que 60% veem valor na família e 63% destacam o amor como sentimento importante nas relações que estabelecem. Sim, ao contrário do que muitos pensam sobre a geração, ela está longe de ser desapegada e de torcer o nariz para relações monogâmicas duradouras.
Mas por que, então, há tantas pessoas dizendo que os adolescentes de hoje são superficiais, fogem de contato físico e só querem saber de games, aplicativos e do universo digital? “A leitura inversa que o senso comum faz dos jovens tem a ver com a falta de conhecimento e compreensão das outras gerações. Enxergam eventuais diferenças de comportamento e referências como conflito ou rompimento, quando, na verdade, as convergências parecem ser maiores que as divergências”, esclarece Karina.
Apesar de parecer óbvio, olha que maravilha – a gente acaba se esquecendo disso frente a tantas problematizações e desafios do dia a dia – mas, para estabelecer uma relação respeitosa e saudável com eles, o melhor a se fazer é furar a bolha e fugir de rótulos.
E isso pode acontecer de maneira muito natural. É só abrir o olho e perceber que, no fim das contas, os anseios dos mais jovens são os mesmos que os nossos. São aspirações humanas. E, na história da humanidade, a evolução e a sobrevivência só foi possível graças ao coletivo familiar e às comunidades que se formavam e se fortaleciam mundo afora.
CONTINUA…