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“Isabella: O caso Nardoni”, na Netflix

16 de agosto de 2023

Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, em cena do documentário Isabella: O caso Nardoni./ Foto: Dviulgação.

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Em 20 de junho deste ano, Anna Carolina Jatobá deixou a Penitenciária Feminina Santa Maria Eufrásia Pelletier, em Tremembé, interior de São Paulo, após a Justiça conceder progressão para o regime aberto. Alexandre Nardoni continua preso, também em Tremembé, na Penitenciária Dr. José Augusto César Salgado, onde cumpre pena no regime semiaberto.

Quinze anos após a condenação pela morte de Isabella Nardoni, enteada dela e filha dele, os dois continuam sendo um casal. Mesmo com o período na cadeia (ela foi condenada a 26 anos, ele a 31) nunca mudaram uma vírgula do que afirmaram durante o julgamento, em março de 2010. Afirmam ser inocentes.

Não há, no Brasil deste milênio, um crime com tamanha repercussão do que o caso Isabella Nardoni, a menina de 5 anos que, em março de 2008, foi jogada da janela do 6º andar do prédio onde seu pai morava com a nova companheira e os dois filhos pequenos do casal. A discrição dos condenados não gerou, ao longo deste tempo, tantas notícias como a do trio responsável por outro crime célebre, do casal Richthofen (2002).

Ainda assim, há muito o que dizer sobre o crime. Com estreia nesta quinta-feira, 17, na Netflix, o documentário “Isabella: O caso Nardoni” revira o caso do avesso. Mesmo que não tenha conseguido nenhuma declaração de Jatobá e Nardoni e seus familiares (após várias tentativas), o longa conta com fortes depoimentos. Foi produzido sob sigilo e só muito próximo do lançamento a plataforma começou a anunciar o projeto.

Dirigido por Claudio Manoel (o ex-Casseta) e Micael Langer, dupla que lançou os documentários “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei” (2009), “Chacrinha – Eu vim para confundir e não para explicar” (2021) e a série “Meu amigo Bussunda” (2021), o filme traz algumas cartas na manga.

A começar pelo extenso depoimento da mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira. É a fala dela, acompanhada de sua mãe, Rosa, e da sobrinha Giovanna (da mesma idade que Isabella), que abre o documentário. Neste momento, ela não comenta sobre o crime, mas sim as lembranças da gravidez precoce (tinha 17 anos), de imagens do parto (com Alexandre Nardoni acompanhando cada momento), etc.

O efeito emocional é forte e ele vai continuar em outros momentos do longa, que intercala personagens da família, e profissionais envolvidos na investigação e no julgamento. A equipe trabalhou com um material enorme – cinco mil fotos, seis mil páginas de processo, 118 horas de entrevistas. Para ilustrar depoimentos de policiais e peritos, foi construída em estúdio, em tamanho real (92 m2) a planta do apartamento do casal Nardoni, em Osasco.

Dois especialistas no caso – o jornalista Rogério Pagnan, autor do livro “O pior dos crimes – A história do assassinato de Isabella Nardoni”, e a criminóloga Ilana Casoy, autora de “A prova é a testemunha” e “Casos de Família – Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni” – atuaram como consultores do projeto.

Passada uma década e meia, a tragédia é revista de uma forma diferente do sensacionalismo com que foi coberta pela imprensa. A própria é colocada em xeque várias vezes, lembrando absurdos que houve na cobertura – como um detector de mentiras colocado em um programa de TV em cima da polêmica entrevista que os Nardoni deram ao “Fantástico”.