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Início de novo ano e novo governo

Pela terceira vez o Brasil tem governo Lula, pareceria então presunçoso dizer que se trata de um novo governo? Como bem disse Heráclito filósofo grego (540 a.C.) “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou…”! Isto quer dizer que tudo se transforma no tempo e no espaço a todo momento, sejam as pessoas ou a natureza, enfim não somos os mesmos desde quando nascemos, exceto pelo nome com o qual fomos registrados e mesmo assim estamos sujeitos a mudar de nome. O próprio atual presidente mudou o nome que recebeu no batismo, acrescentando “Lula” na certidão de nascimento! O mundo e a vida é um eterno “vir a ser” é o que esclarece a Teoria do Devir de Heráclito, para ele, o Universo anda num eterno fluir, com cada coisa sendo e não sendo ao mesmo tempo. Em se tratando de política pode-se aplicar esta tese, mas não vou ficar aqui dando uma de pernóstico e ficar citando e divagando com teses filosóficas complicadas para o que é fácil de entender. Então, vou descer do pedestal da suprema filosofia e usar a definição bem simples sobre política. E ainda por cima, definição de um político mineiro. Segundo José de Magalhães Pinto (1909-1996): “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. Assim é se lhe parece! Pois bem, assim podemos afirmar que estamos sob novo governo e nova administração neste novo ano que se inicia. Assim dito e firmado, vamos aos novos fatos e novas problematizações. Alguém de cara, poderia dizer que os problemas brasileiros são os mesmos de décadas atrás.

Sim, são, porém com diferenças de números e graus. Por exemplo, a pobreza aumentou absurdamente nos últimos seis anos. Com uma população de 207 milhões de pessoas segundo o Censo atual, hoje temos um contingente de pelo menos 160 milhões de brasileiros dentro ou próximo da chamada linha da pobreza. E mais doloroso ainda, 5 milhões de pessoas que caíram para a linha da extrema pobreza. Sem dúvida, tal dramática situação será, como já afirmou o novo presidente, a prioridade a ser atacada pelo novo governo. Claro, se a mão visível do Mercado não criar empecilhos.

Mas os desafios do novo governo não param no problema da fome de milhões de brasileiros. Aliás, o próprio governo avisou que fez na campanha eleitoral passada, 800 compromissos a serem cumpridos nos quatro anos de governo. Terá pela frente uma profusão de trabalhos tão ou mais complicados que os doze trabalhos do herói da mitologia grega, Hércules filho de Zeus. O atual governo mostrou desde os trabalhos da Comissão de Transição a que veio, já aprovando até PECs antes mesmo do término do governo anterior. Também, desde a posse, o novo presidente fez e vem fazendo pronunciamentos realistas e ao mesmo tempo otimistas e compôs um Ministério político, com nomes ligados ou com experiências nas áreas em que atuarão. Claro que como todo ministério de qualquer governo, nunca tem a unanimidade de aceitação até mesmo com alguns segmentos dos apoiadores do governo, mas somente com o tempo e o desenrolar dos trabalhos é que virá a confirmação dos acertos e erros. E então, aí é que aparece o papel do estadista, do líder e do administrador para reorientar os trabalhos. E o presidente Lula tem um excelente histórico de trabalho nas relações com os seus ministérios.

E as oposições ao governo Lula? Aí a coisa pegará pesado, porque além da oposição que é natural e normal em qualquer processo democrático, no Brasil, no entanto, pesam outras contingências políticas tais como polarizações ideológicas mal resolvidas. Tem também a nova composição do Congresso Nacional, como sabemos com maiorias das bancadas parlamentares sabidamente anti-Lula. Tem o Centrão, como sabemos não abre mão de querer também exercer um papel de Executivo, tem a maior parte da grande imprensa comprometida com seus próprios interesses e principalmente com interesses do Mercado que fica fustigando o governo a puxar a sardinha para sua brasa em detrimento dos interesses do povo e por aí vai. No entanto, Lula tem experiência para superar tais problemas e ainda enfrentar os desafios para restabelecer a harmonia entre os Poderes e promover a estabilidade econômica com o equilíbrio entre a responsabilidade fiscal e a social é o que o povo brasileiro espera de fato do novo governo.

ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS é Professor de História

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