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‘Homens sem lei’ resgata a história do primeiro esquadrão da morte do país

Seriado acompanha a Scuderie Le Cocq, formada no Rio de Janeiro nos anos 1960, e os famosos bandidos executados por ela / Foto: Reprodução/Montagem

Mariana Peixoto

 

BELO HORIZONTE – A frase “Bandido bom é bandido morto”, popularizada pelo personagem Capitão Nascimento (Wagner Moura) no filme “Tropa de elite” (2007), tem origem na vida real. Foi criada por José Guilherme Godinho Sivuca Ferreira (1930-2021), delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro e deputado estadual por dois mandatos. Em entrevista a Jô Soares, no programa “Jô Onze e Meia”, Sivuca ainda acrescentou: “E enterrado em pé, pra não ocupar muito espaço”. Um trecho desse encontro abre a série documental “Homens sem lei”, que estreou ontem, no canal pago A&E.

A produção, em cinco episódios, aborda o primeiro esquadrão da morte do Brasil, a Scuderie Le Cocq, criada no Rio de Janeiro nos anos 1960 e ativa até a década de 1980. Com símbolo de caveira sobre ossos cruzados, o grupo chegou a ter sete mil associados, com direito a CNPJ e ficha de inscrição. Entre os nomes ligados à entidade estavam Pelé e Frank Sinatra. A Scuderie também atuava no Espírito Santo e era formada por policiais como os “Doze Homens de Ouro”, responsáveis por “limpar” as ruas de criminosos, travestis e moradores de rua.

Sivuca foi o único integrante histórico vivo quando a série começou a ser gravada. Ele morreu de COVID-19, aos 90 anos, em agosto de 2021, três meses após conceder entrevista ao diretor José Tapajós.

Cada episódio destaca um caso emblemático: Mineirinho (1962), Cara de Cavalo (1964), Sérgio Gordinho (1968), Lúcio Flávio (1975) e Mariel Mariscot (1981) — este último policial que se tornou criminoso. Depoimentos de jornalistas como Luarlindo Ernesto, Domingos Meirelles, Marcelo Beraba e Percival de Souza ajudam a contextualizar a relação entre imprensa, polícia e crime na época. Os escritores Zuenir Ventura e Nélida Piñon (1938-2022) também participam.

O primeiro episódio trata da morte de Mineirinho, condenado a 104 anos de prisão e morto com 13 tiros em 1962. O caso gerou comoção e inspirou textos de Clarice Lispector, relembrados por Nélida Piñon. Já a trajetória de Cara de Cavalo influenciou o artista plástico Hélio Oiticica e sua bandeira “Seja marginal/Seja herói”, adotada pelo movimento tropicalista.

A série intercala depoimentos inéditos, reportagens da época e cenas de filmes como “Mineirinho: Vivo ou morto” (1967) e “Lúcio Flávio, o passageiro da agonia” (1977), de Hector Babenco.

Segundo Tapajós, a história da Scuderie Le Cocq ainda é pouco explorada no Brasil. O roteiro foi escrito a oito mãos, incluindo o jornalista Bruno Paes Manso, autor de “A república das milícias”.

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