Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho
Com a morte do Papa Francisco, ocorrida em 21 de abril de 2025, o mundo católico se despediu de um dos líderes mais carismáticos e humanos da história recente da Igreja. Jorge Mario Bergoglio, o jesuíta argentino que escolheu o nome de Francisco, foi símbolo de simplicidade e humildade — um papa que preferia os sapatos gastos ao luxo da seda, e que fez do sorriso e da escuta sua forma de evangelizar. Combateu muros, construiu pontes e chamou todos, sem distinção, para a mesa comum da dignidade humana.
O Conclave, tradicional reunião do Colégio de Cardeais, reuniu-se mais uma vez sob a cúpula da Capela Sistina, em meio a rezas, expectativas e fumaça branca. No dia 8 de maio, foi eleito o 267º sucessor de São Pedro. Pela primeira vez na história, um norte-americano — o cardeal Robert Francis Prevost, nascido em Illinois, Chicago — tornou-se pontífice. Desde 2015 cidadão peruano, Prevost tem laços profundos com a América Latina, onde serviu como missionário e bispo. Escolheu chamar-se Leão XIV, nome que remete à coragem e firmeza doutrinal de Leão XIII, mas com toques de contemporaneidade que lembram, paradoxalmente, Francisco.
O novo Papa já sinalizou o tom de seu pontificado com o lema –” In Christo unum sumus “– “Em Cristo somos um” — inspirado em Santo Agostinho, de cuja ordem religiosa é oriundo. A frase, embora simples, guarda uma promessa densa: a de que a unidade não pode excluir, e que o Evangelho, se for autêntico, deve abraçar todos — com firmeza doutrinal, sim, mas com ternura evangélica.
O que esperar de Leão XIV? Firmeza na doutrina e ousadia pastoral parecem caminhar juntas. Ele já se manifestou contrário a ideologias que pretendem desconstruir a identidade humana, mas, ao mesmo tempo, se coloca frontalmente contra qualquer forma de preconceito, exclusão ou perseguição. As bênçãos pastorais não serão negadas — as pessoas não serão julgadas por sua orientação sexual, mas acolhidas com respeito e dignidade. Seguindo Francisco, acredita que “as pessoas devem ser respeitadas em sua dignidade”. O pecado, como sempre ensinou a Igreja, não define a pessoa, mas a liberdade de seus atos.
Há quem se pergunte como será sua relação com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cujas posições frequentemente colidem com os princípios cristãos da acolhida e da justiça social. Mas Leão XIV parece determinado a não se deixar capturar por ideologias ou nacionalismos. Seu olhar está voltado ao Sul do mundo, onde os pobres ainda gritam, onde a fé floresce entre lágrimas, e onde o Evangelho ainda é força de resistência.
Diferente de Francisco? Talvez na forma. Mas o conteúdo aponta para a continuidade. Há nele o mesmo desejo de tornar a Igreja um hospital de campanha, como dizia Bergoglio, onde os feridos da alma encontrem abrigo. Leão XIV não será um rompimento, mas um passo adiante na longa estrada dos que buscam em Cristo a unidade sem exclusões.
O mundo assiste. Os fiéis oram. E a janela do Vaticano, de onde o novo Papa já se debruçou para a bênção “Urbi et Orbi “ parece aberta não apenas sobre Roma, mas sobre os corações que ainda esperam por esperança.
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado e cronista.
(luizgfnegrinho@gmail.com)