22 de julho de 2025
O Brasil do consórcio Lula-STF vai se tornando, ou já se tornou, cada vez menos uma república e cada vez mais uma tribo primitiva que tem por função atender às necessidades, às demandas e aos interesses de um chefe sobrenatural. Ele se chama Alexandre de Moraes, nunca recebeu um voto em sua vida e tem, obrigatoriamente, de receber a aprovação cega da tribo em tudo o que faz. Esse “tudo” não é um modo de dizer. Significa tudo mesmo.
É óbvio que, uma hora dessas, um negócio com tamanho potencial de provocar desastres variados acabaria causando alguma gigantesca enfiada do pé na jaca. Aconteceu, enfim. Moraes, mais aquele bando de togas que ficam olhando o tempo todo para ele à espera de uma ordem para obedecerem, meteu a tribo numa briga com outra, dez vezes mais forte. Quem tinha de quebrar a cara deveria ser ele, sozinho, certo? Errado.
Errado, porque, como dito acima, o Brasil do regime Lula-STF não deixou apenas de ser um país de leis, com uma Constituição operante e as regras básicas da democracia, mas deixou também de ser uma república. Se fosse, não estaria, junto com a população brasileira, às portas de uma briga em que, se o adversário quiser mesmo, vai apanhar como boi ladrão. O único punido seria o funcionário que causou o problema. Não está sendo assim.
No Brasil do consórcio Lula-STF, tornou-se um dever constitucional, civil e patriótico, como o voto nas eleições ou o CPF, apoiar Alexandre de Moraes em tudo. Não importa o que ele faça – você é obrigado a ficar a favor, sob pena automática de cometer “ato antidemocrático” ou, no caso da briga que ele arrumou com os Estados Unidos, “traição à pátria”. Certo ou errado, ele é o nosso ministro; o outro lado é uma potência estrangeira e não pode ter razão.
Ficam todos os brasileiros, aí, incluindo o governo Lula inteirinho, vendidos a preço de liquidação: ele faz, ninguém pode impedir que faça, e você é quem paga. O pior é que Moraes não facilita a vida do Brasil. Ele é, na verdade, um artista da complicação – não consegue mexer em nada quebrado sem quebrar mais ainda.
A imprensa acaba de anunciar, horrorizada, que o ministro sofreu mais um ataque dos golpistas que o perseguem: teve de revogar, coitado, a prisão domiciliar de uma senhora de 72 anos que, segundo a PF de Moraes, violou “900 vezes” as medidas cautelares às quais estava sujeita para cumprir a pena em casa. Que coisa espantosa, não? A capacidade delinquencial dessa extrema-direita é realmente sem limites.
Aí fica difícil. É rigorosamente impossível convencer um ser humano em condições mentais mais ou menos em ordem de que uma senhora de 72 anos tenha conseguido violar alguma regra 900 vezes seguidas num período de seis meses – o ano de 2025. Dá 150 vezes por mês. É claro que não foi nada disso. As violações alegadas por Moraes foram causadas por problemas técnicos nas tornozeleiras da própria polícia – de quedas de sinal a esgotamento das baterias, todos eles comunicados às autoridades.
Isso só torna ainda mais complicada a complicação inicial: quem pode achar que uma pessoa de 72 anos de idade, condenada por ter tomado parte numa arruaça, precisa ficar em prisão fechada para não ameaçar a segurança do Estado? O governo americano acusa o ministro, justamente, de fazer esse tipo de coisa. Daí ele vai e faz de novo, só para mostrar que não tem medo nem de Trump, nem de ninguém.
Nenhum advogado, promotor ou juiz de qualquer país civilizado pode levar a sério esses desvarios do manicômio que é hoje o STF. Mas você tem de ficar indignado com a velhinha capaz de desafiar Moraes 900 vezes; tem de aplaudir a extraordinária coragem do ministro de dar um basta a esses atentados contra a democracia. O consórcio Lula-STF, realmente, transformou o Brasil num país de palhaços.
J. R. Guzzo é jornalista