22 de dezembro de 2023
Hellen Mirren passou por um longo processo de transformação para ficar parecida com a ex-primeira-ministra de Israel./ Foto: Divulgação.
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A Diamond Films trouxe para os cinemas brasileiros “Golda – A Mulher de Uma Nação”, longa estrelado pela vencedora do Oscar Helen Mirren como Golda Meir entrou na plataforma do Prime Vídeo neste final de semana. Baseado em uma história real, o filme é um recorte histórico e político da Guerra do Yom Kippur (1973), sob a perspectiva de Meir.
O filme, dirigido por Guy Nattiv, narra um trecho crucial tanto do governo de Golda (1969-1974), quanto da própria história de Israel. Atacado de surpresa pelos árabes durante o Yom Kippur de 1973, Israel esteve a ponto de ser derrotado. Salvou-se, afinal, valendo-se de um auxílio crucial dos Estados Unidos, seu aliado.
As conversas, presenciais e telefônicas, entre Kissinger e Golda se dão num quadro político complexo. Atacado, Israel precisa desesperadamente de ajuda. Mas o governo americano tem sua cota de problemas internos a resolver, que ferve, no momento, o caso Watergate, que levaria Nixon à renúncia.
Golda argumenta que só não havia desfechado um ataque preventivo contra os árabes para não contrariar os americanos. No xadrez internacional, que incluía o relacionamento complexo com a União Soviética, esse fator de desequilíbrio no Oriente Médio poderia complicar as coisas. Se os árabes, em particular a Arábia Saudita, fechassem as torneiras do petróleo, seria uma dificuldade adicional, esta de ordem econômica.
Nessa corda bamba, Golda, idosa e doente de um câncer, revela-se uma estadista. Morde e assopra e, no final, joga duro para conseguir o que deseja e precisa: ajuda em material bélico naquele momento de crise. Mesmo contrariado, o governo americano manda a Israel 93 aviões Phantom e 26 mil toneladas de equipamentos, o que foi determinante para a virada da guerra.
Do ponto de vista dramático, o filme é bem interessante. Passa-se quase todo em ambiente fechado, com reuniões entre a primeira-ministra e seu gabinete de guerra. Poucas cenas de batalha são mostradas, vendo-se apenas raras sequências aéreas com bombardeios no solo. É a guerra do bastidor que interessa, com seus jogos de pressão, conflitos de interesses entre os protagonistas, habilidades de jogador e capacidade de blefar em momentos de clímax.
O ponto de vista é sempre israelense, embora não ufanista. Ignora o outro lado e outras versões. Golda Meir é interpretada pela britânica Helen Mirren, sob camadas de maquiagem. Mesmo assim, é sua capacidade de atriz que sobressai, numa caracterização rica de matizes. Além do “pôquer” disputado com Kissinger (Liev Schreiber), Mirren destaca-se em cenas pungentes como quando o marido de uma de suas funcionárias aparece na lista de mortos em combate. Emociona, sem ser piegas.
Golda é forte no momento em que o militar-símbolo de Israel, Moshe Dayan, dá mostras de fraquejar. No plano pessoal, abre-se apenas com sua ajudante de ordens, Lou Kaddar, vivida pela francesa Camille Cottin (da série da Netflix Dix pour Cent).
“Golda – a Mulher de uma Nação” é um bom e adulto filme político. Mas, como, político? Não se trata da Guerra do Yom Kippur? Sim, mas como dizia Clausewitz, a guerra é a continuação da política por outros meios.