9 de dezembro de 2019
Para sextas santas e tantas de cada semana, a moda agora é sextou. “Sextou agora, viu?” É assim que dizem. E deitam falatório para sagrada e dulcíssima fase da semana. In vino veritas!
A juventude rola de satisfação, e a gente, noutra ponta, amadurecida pelas bênçãos do tempo, rala e chora de preocupação. Não é pra menos.
Simples equação, estilo britânico de trabalhar e viver, pela frente, cinco dias de pena para dois de farra. Tida e havida semana inglesa.
Por antecipação, nada mais justo, convivas brindam no espírito da alegria, a vida que têm. Espera-se, com dever e senso de responsabilidade. Assim, pernas para o ar. Afinal, ninguém é de ferro!
Por bons caminhos e direção, entre pobres e desesperadas criaturas da Terra, promessa de festança positiva em busca de lazer e pretendida glória: o dolce far niente. Principalmente se considerarmos que estamos num país cuja alegria é contabilizar tragédias com o próximo. Num lucro bobo e confuso, achando que estamos ilesos. Não estamos. Uma ou outra coisa chega. Quando não, chegantes, uma e outra coisa, juntas!
Por falar em moda, levada por impulso do modismo a qualquer preço, a garota resolve tatuar na altura dos seios frase por ela desconhecida.
E daí? Em tese, o corpo é dela, é "de maior", faça o que quiser, como quiser.
E lascou, na altura do peito: "Keep The Faith".
Vamos lá. De não significativa cultura, por acaso a garota sabia o significado do que gravou no corpo, pelo menos o idioma? Não sabia.
Tomada pela fúria de uma prática perigosa, entre o descompensado e a compaixão, foi ao estúdio de tattoo e resolveu estabelecer suas normas: “risco o corpo que é meu, porque vi e achei bonita a frase, e pronto”.
Em princípio, devia pensar um pouco antes de partir para agressões físicas de duvidoso valor social. Depois saber que o vínculo com a arte do procedimento é para sempre. Segundo dizem, uma cultura perene.
Inquirida em que língua é a mensagem, responde: "Ah, sei lá! É daquele povo que gosta de guerra, de fala esquisita”. Num toque de rudimentar lembrança, menciona a língua dos tempos de Jesus.
Alguém intervém para botar reparo: "não é árabe, grego, aramaico e nem hebraico. É inglês!"
Nem foi a doidivanas que se interessou em saber a significação. Alguém ao redor. Logo a tradução do insculpido na corajosa. (Homem peitudo não é o corajoso? Ato contínuo, mulher peituda também pode ser corajosa. Por que discriminação no comparativo?)
Logo o mistério da expressão "Keep The Faith", diluída a termo e tempo, num ato de profissão de fé, mesmo sem saber. Tradução: “mantenha a fé”. “Tenha fé”. Por aí. Bonita mensagem. Ainda bem.
Delicada também a atitude de um jovem porra-louca em outro caso. E de polícia! Num ato de insana bobagem, adquire numa loja de camelô da cidade uma camiseta. Não avalia os dizeres nela estampados. Não demora, é parado numa praça e conduzido a uma delegacia de polícia para explicações de praxe.
Que motivo tem o jovem para alimentar e espalhar ódio contra a polícia? – questionaram.
–“Ódio, eu? De jeito algum! Por quê? Quem falou?”
Num rígido e propício jogo de dardos na averiguação, na mosca: — Sua camiseta fala. O que nela está escrito demonstra.
De fato, longe de nutrir ressentimento negativo com a polícia. Mas não era bem isso que estava declarado na camiseta: "I hate police". Tradução não tão difícil para iniciantes da língua de Tio Sam:
"Tenho ódio de polícia".
Ih, deu ruim!
Tivesse um pouquinho de bom senso não sairia por aí criando animosidade e situações desagradáveis, depois alegar que não sabia do feito. Mesmo que o artigo 5° da Constituição da República, na trapaça da sorte, venha ampará-lo na liberdade de expressão. Mas, para que causar desconforto?
O mesmo vale para os amantes das sextas-sextou de fantasiosas tardes de benfazejas louras suadas, ao sabor de quem se encontra na proeminência topográfica etílica de um Monte Olimpo.
À la santé aos incondicionais adeptos do momento e do vale enquanto dure, até que a ressaca do day after os pegue em blitzen moral, convenhamos, efeito estufa de considerável preocupação para os miolos e para a segundona braba na iminência de acontecer.
LUIZ GONZAGA FENELON NEGRINHO, advogado, com escritório em Formiga, escreve aos domingos nesta coluna.
ALEGRIA BOBA É CONTABILIZAR TRAGÉDIAS COM O PRÓXIMO