Débora Meira
DELFINÓPOLIS – O grupo Folia das Almas, de Delfinópolis, comemorou 35 anos de fundação, na última segunda-feira, 3, e mantém viva uma tradição secular no Vale da Gurita, a Folia das Almas da Canastra, ritual noturno realizado por moradores de comunidades rurais durante a Quaresma que visitam fazendas e povoados para “encomendar” as almas do purgatório para o céu, com a cantoria das almas e utilização de matracas.
Para celebrar a data, o grupo ganhou uma exposição do Oratório de São José de Anchieta, patrono do Memorial das Almas de Delfinópolis, no espaço cedido pela Secretaria de Turismo, Lazer, Esporte e Cultura na Casinha de Pedras, na Praça Dr. Lafayete Soares e vai participar, nesta quinta-feira, da cerimônia de abertura do Tríduo Pascal com a realização da via-crúcis no palco do Ginásio Poliespotivo.
Segundo o coordenador do grupo, Edson das Neves, a comemoração deste ano será diferente dos anteriores. “O Grupo está inventariado como bem imaterial do Patrimônio Cultural de Delfinópolis, enquanto projeto cultural está afiliado à Associação Beneficente Idade Maravilha (Grupo da 3ª Idade), instituição parceira desde 2010. As comunidades rurais têm acolhido o grupo com grande alegria durante suas festividades. Neste ano, em especial, ficará em exposição o oratório itinerante de São José de Anchieta para que a comunidade e turistas visitem. O local será na própria praça onde acontecerá o Canto das Almas, diante do Memorial das Almas e na Casinha de Pedra – espaço cedido pelas artesãs da Associação Mãos da Canastra, na Praça Dr. Lafayete Soares”, comenta.
“Atualmente o grupo tem 20 membros e todas as pessoas são bem-vindas, desde que respeitem nossa religiosidade popular. Podem caminhar conosco durante o ritual, cantando ou rezando conosco, mas nosso objetivo é incentivar a participação de nossas comunidades tradicionais e integrantes do Grupo da 3ª Idade, que são guardiões de nossas memórias”, disse.
Neves também destaca que além do apoio das secretarias de Turismo, Cultura, Esportes e Eventos e de Educação de Delfinópolis, o grupo também recebe incentivo do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Delfinópolis (Compac) e de diversas pousadas da região para realizar a folia das almas.
“Neste ano, a via-crúcis das Almas será uma cerimônia reservada, por motivo de luto. Infelizmente no ano de 2022, nosso capitão e o gerente faleceram, por isto será um evento mais introspectivo, para homenagearmos as almas daqueles que foram muito especiais à nossa tradição ao longo destes 35 anos de caminhada penitencial”, disse.
Com o Oratório de São José de Anchieta decorado no interior da Casinha de Pedras, o rito de abertura terá a oração e bênção do Manto das Almas. O local ficará aberto como exposição provisória durante o Tríduo Pascal, das 18 às 23h. Em seguida, após a benção do manto, o grupo encenará o Canto das Almas diante do monumento histórico, o Memorial das Almas de Delfinópolis, localizado na pracinha ao lado da Casinha de Pedras e em frente ao Ginásio Poliesportivo.
História
O grupo foi fundado no Domingo da Páscoa, em 3 de Abril de 1988, na comunidade do Itajuí, no Vale da Gurita, mas a folia existe há mais de 100 anos nas comunidades tradicionais da Canastra. Atualmente, o grupo é denominado Folia das Almas da Canastra e atua em duas comunidades rurais, Vale da Gurita e Complexo Claro, e também no distrito de Olhos d’Água da Canastra e na área urbana de Delfinópolis.
“Nós realizamos diversos eventos na Serra da Canastra, Tríduo Pascal (quinta, sexta e sábado santo), que é o Canto das Almas, típico do tempo quaresmal, Dia de São José de Anchieta (9 de Junho), com novena preparatória e encerramento com um festejo junino, Visitas às comunidades tradicionais para rezar terços (capelas rurais) e o Mês das Almas, uma Caminhada Ecológica da Folia das Almas, rumo ao Cemitério do Tatu (2 de Novembro, dia de Finados)”, afirma o coordenador.