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Folha entrevista Carlos Melles

12 de maio de 2025

Foto: Reprodução

A Folha traz neste domingo uma entrevista com Carlos Melles, um nome amplamente reconhecido na política e no setor rural e do empreendedorismo. Durante sua trajetória como dirigente cooperativista, deputado federal por seis mandatos consecutivos, ministro do Esporte e Turismo, secretário de Transportes e Obras Públicas em Minas Gerais e presidente do Sebrae Nacional, ele sempre deu grande importância à comunicação. Em suas campanhas eleitorais e ações como gestor, a comunicação foi um pilar essencial para fortalecer a relação com o público, disseminar informações e engajar a sociedade. Melles, que é ativo nas redes sociais, mas também não abre mão do rádio, da TV e da leitura de jornais, fala sobre a relevância da comunicação em suas diversas formas para a construção da cidadania e a democracia.

 

Folha da Manhã (FM): Carlos Melles, ao longo de sua carreira você teve uma relação muito próxima com a comunicação. Como ela foi essencial para o seu trabalho em todas essas frentes, como na política, no cooperativismo e no Sebrae?

Carlos Melles (CM): A comunicação sempre foi o elo que me permitiu estar mais próximo das pessoas, seja no cooperativismo, na política ou no Sebrae. Na Cooparaíso para se ter uma ideia, usávamos telex, criamos programas especiais de rádio, criamos o Pausa do Café na TV, tínhamos nosso informativo mensal impresso para os cooperados, fomentamos a internet rural, e éramos presentes nas mais diversas mídias regionais. Quando fui deputado, sempre procurei estabelecer um diálogo direto com os eleitores, com as pessoas nas ruas, utilizando os meios de comunicação de forma estratégica para entender suas necessidades e compartilhar as minhas propostas. Nos seis mandatos no Congresso, a base foi ouvir, dialogar, comunicar, sem isso não teríamos sucesso. Tínhamos igualmente um esforço muito grande de comunicação do Ministério e na Secretaria de Transportes, com equipes específicas e altamente qualificadas. No Sebrae, a comunicação foi fundamental para divulgar ações que ajudaram os pequenos negócios, principalmente durante a pandemia, quando tínhamos que nos adaptar rapidamente às novas realidades. A comunicação é um dos principais instrumentos de qualquer processo de transformação social e política. Importante destacar que, em qualquer momento de minha vida, sempre falei com as grandes mídias, mas jamais deixei de estar vivo e presente na imprensa do interior.

 

FM: O senhor sempre inovou o uso da comunicação em suas campanhas eleitorais. Como o senhor vê a evolução dos meios de comunicação?

CM: A comunicação mudou profundamente, mas a necessidade de conectar as pessoas nunca se alterou. Para nossos leitores saberem, na época das minhas campanhas e depois no início do primeiro mandato – inovamos com outdoors, materiais impressos diferenciados, videoclipes para cada cidade, mas eu também enviava tiras com notícias e informações via fax para prefeitos, vereadores e para as rádios. Era uma comunicação mais lenta, mas com um impacto muito direto. Para os jornais, as fotos iam de ônibus, para só depois imprimir. Hoje, a velocidade das informações é absurda, e a comunicação digital mudou completamente a forma como nos conectamos com o público. As redes sociais, por exemplo, permitem uma interação instantânea e em larga escala, o que é uma vantagem imensa, mas também exige maior responsabilidade, pois a velocidade da informação também acelera a disseminação de desinformação.

 

FM: E como o senhor enxerga a importância da comunicação em um contexto mais amplo, como ferramenta de democracia e cidadania?

CM: A comunicação é essencial para a democracia. Ela possibilita o acesso à informação, o que permite que as pessoas tomem decisões informadas, analisem diferentes pontos de vista e exerçam sua cidadania de maneira plena. A liberdade de expressão, o direito à informação e a pluralidade dos meios de comunicação são fundamentais para garantir que todos tenham voz, e isso é o alicerce de uma sociedade democrática. Quando a comunicação é feita de maneira transparente, honesta e plural, ela fortalece a democracia e a capacidade das pessoas de se engajarem nos processos políticos e sociais.

 

FM: E a comunicação não é feita apenas pelos jornalistas, mas também por todos os profissionais envolvidos na produção de conteúdo. Qual a sua visão sobre o trabalho dos profissionais que atuam nos bastidores?

CM: Cada profissional que trabalha na comunicação tem um papel crucial, e a credibilidade é a base do bom jornalismo, da boa comunicação. Por isso é fundamental escolher bem a fonte de comunicação, a origem. O jornalista, o repórter, o cinegrafista, o técnico de som, todos têm um papel fundamental em garantir que a informação chegue da melhor forma possível à sociedade. A liberdade de imprensa e o trabalho dos jornalistas são pilares da democracia, pois são eles que fazem o filtro da informação, que investigam, que questionam e, muitas vezes, desconstroem narrativas enganosas. Olha a responsabilidade neste processo! O trabalho de quem produz conteúdo é indispensável para a qualidade da informação que chega ao público. Eles são os responsáveis por manter a sociedade bem informada e, portanto, mais capaz de participar ativamente da política e da sociedade.

 

FM: Com o papel dos meios de comunicação sendo central em tempos de crise, como foi no período da pandemia, como o senhor vê o papel da comunicação na preservação de empregos e da economia?

CM: A pandemia demonstrou o quanto a comunicação é vital para o enfrentamento de crises. Durante aquele período, quando eu presidia o Sebrae, foi uma das entidades que mais se esforçou para comunicar medidas de apoio aos pequenos negócios, a fim de garantir que esses empreendimentos sobrevivessem. A comunicação foi a ferramenta que nos permitiu disseminar informações sobre linhas de crédito, sobre como se adaptar às novas condições de mercado e sobre como manter os empregos. Sem a comunicação, muitas empresas não teriam conseguido se ajustar tão rapidamente às mudanças. Ela foi o principal canal para conectar os pequenos negócios às soluções, e sem isso, muitos teriam sucumbido.

 

FM: Quais são os desafios e as oportunidades para a comunicação nos próximos anos, considerando o impacto das novas tecnologias e da digitalização?

CM: A comunicação está em constante evolução, e, sem dúvida, as novas tecnologias trazem tanto desafios quanto oportunidades. Entendo que as mídias tradicionais jamais perderão sua relevância, sendo muitas vezes a base de conteúdo para mídias digitais. O maior desafio é lidar com a velocidade da informação e garantir que ela seja verídica e precisa. A internet e as redes sociais possibilitam uma comunicação instantânea, mas também amplificam os riscos de desinformação e manipulação. Ao mesmo tempo, as oportunidades são imensas, pois temos acesso a uma gama de meios e ferramentas que permitem uma comunicação muito mais dinâmica, segmentada e interativa. A chave será encontrar um equilíbrio entre a inovação tecnológica e a responsabilidade social, garantindo que a comunicação continue cumprindo seu papel fundamental de informar, educar e engajar. Devemos sempre investir na comunicação como ferramenta de transformação e na formação de uma sociedade mais informada e participativa.

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