Opinião

Fernando Taxad

20 de julho de 2024

Foto: Reprodução

MARCEL VAN HATTEM

 

Até Nova York sabe: Fernando Haddad é a “Taxa Humana”, trocadilho com o super-herói Tocha Humana e representado em alta definição em telão na Times Square na última terça-feira. A inundação de memes nas redes sociais e, em especial, no X retratando Haddad – ou Taxad, como as redes já o apelidam agora – como o algoz do pagador de impostos brasileiro, transbordou para a vida real. Não foi só nas ruas da cidade americana símbolo do capitalismo mundial que a trend chamou atenção: em Brasília, próceres do petismo não conseguiram evitar o desconfortável assunto, ainda que tentando relevar sua importância. Sem sucesso.

A verdade é que, a exemplo do que escrevi há poucos dias neste espaço sobre o tamanho da irresponsabilidade fiscal e dos déficits causados pelo governo Lula, o Ministério da Fazenda não tem investido em nenhuma outra alternativa para contorná-los senão aumentando a arrecadação. A conta, cada vez mais salgada, precisa ser paga. O discurso de taxar quem mais ganha pode funcionar no curto prazo e para as bases mais alinhadas com o lulismo. A realidade, porém, se impõe: todos vão acabar pagando e a maioria dos brasileiros já está sentindo o bolso arder. Todos os dias.

Em artigo de abril passado, ainda antes da aprovação de uma ainda indecifrada regulamentação da Reforma Tributária, Célio Yano fez um apanhado dos principais aumentos de impostos e novos tributos criados no governo Lula. No rol está a volta do recolhimento de PIS/Cofins sobre os combustíveis, o que voltou a colocar a gasolina acima do preço de R$ 6 por litro; a tributação sobre a exportação de petróleo; a tributação de apostas esportivas; a nova alíquota de importação para o e-commerce – a “taxação das blusinhas” e sobre a importação de painéis solares; o aumento do IPI sobre armas e munições; o fim da isenção de IRPJ e CSLL de benefícios fiscais; a tributação de fundos exclusivos e de rendimento no exterior; instituição da cobrança de IPVA de iates e jatinhos, além da progressividade do imposto sobre herança; e a volta do DPVAT, são exemplos – mas não todos! – das tungadas que este governo já deu no bolso do brasileiro em menos de dois anos de mandato. Como suportar tamanho assalto?

O caldo definitivamente entornou com a aprovação de uma reforma tributária que deve resultar no maior imposto sobre consumo do mundo, superando os 27% cobrados na Hungria, exageradamente mais alto do que o de qualquer país em desenvolvimento, como é o nosso caso, e quase o dobro da média mundial, de 15%. Não é à toa que o cidadão foi às redes expressar sua insatisfação com Fernando Taxad, digo, Haddad. E não há acusação de disseminação de fake news que fique de pé diante de uma população que sente o seu poder de compra diminuído cada vez que vai a um supermercado.

Uma frase que se tornou célebre, do estrategista de campanha de Bill Clinton, James Carville, na sua primeira vitória presidencial, merece ser relembrada: “É a economia, estúpido!”. Nada revolta mais uma população do que o abuso arrecadatório. Os Estados Unidos se tornaram independentes após o imposto do chá, o Brasil tem em Tiradentes um herói nacional após a revolta causada pela cobrança do quinto e o meu Rio Grande do Sul foi à guerra contra o governo central em virtude do imposto sobre o charque.

Lula e Haddad estão experimentando, agora, a revolta do brasileiro que se sente abusado, compelido a pagar uma conta que não é sua. Para piorar, tanto o presidente como seu ministro não se esforçam para encontrar alternativas no corte de despesas de um estado inchado e que serve mais a si mesmo do que ao povo. Haddad até fala, mas não faz. É a receita perfeita para gerar mais impopularidade, mais revolta – e mais memes. O resultado, como demonstrou Carville com Clinton, é um só: alternância de poder no voto ou na marra, como experimentaram no passado recente Fernando Collor e Dilma Rousseff.

MARCEL VAN HATTEM é deputado federal em segundo mandato pelo Novo-RS, bacharel em Relações Internacionais. É mestre em Ciência Política pela Universidade de Leiden; em Jornalismo, Mídia e Globalização pelas Universidades de Aarhus/Dinamarca e de Amsterdã – Holanda.