ÉZIO SANTOS
DELFINÓPOLIS – O ex-prefeito de Delfinópolis José Geraldo Franco Martins, o Zezé Martins, a esposa dele e duas filhas adolescentes do casal permaneceram quase oito horas em poder de uma quadrilha especializada em sequestro-relâmpago no município de Itaquaquecetuba (SP). O caso ocorreu na semana passada e os criminosos levaram cerca de R$ 145 mil, que foram sacados de quatro contas bancárias via aplicativo.
“Foi o pior momento que passei na minha vida juntamente com a esposa Elenice Maia Martins, as filhas Luana, de 16, e Luma, de 13. Uma série de fatores contribuíram para que fôssemos libertados de um cativeiro e conseguíssemos o primeiro contato, minutos depois de nos abandonar em uma via pública onde nem sabíamos onde ficava. Os momentos foram de tensão correndo risco de morte sob a mira de revólveres, porém estamos em casa, apesar de ainda bastante traumatizados”, contou Zezé.
O drama da família Martins começou dia 17 de julho. Depois de alguns dias em Santos (SP), seguiram para Campos do Jordão, na Serra da Mantiqueira, pela rodovia SP-70 (Ayrton Senna). Por volta de 8h30, o carro elétrico de Elenice, dirigido por Zezé, foi atingido propositalmente na traseira por um outro veículo. Com o impacto, ele percorreu cerca de 300 metros e parou no acostamento para ver o estrago.
A esposa e filhas também desceram do carro, e observaram que havia apenas um leve amassado no para-choque. Antes de retomar a viagem, aproximou-se um Corolla, placa RTY-1E77, de onde saiu um homem bem-vestido e gentil, dizendo que o acidente foi um descuido dele, que arcaria com todas as despesas e solicitou a Zezé que anotasse o número do seu telefone de contato para mais detalhes.
A partir daí, teve início o sequestro-relâmpago com a chegada de mais três bandidos armados. “Eles me renderam e tentaram me colocar no Corolla, mas recusei e um deles me agrediu com o cabo do revólver no meio da cabeça e o sangue desceu pelo corpo abaixo. Um outro homem, ao tentar ligar o veículo elétrico com Elenice, Luana e Luma dentro, não conseguiu, e quando eu disse que era rastreado por satélite, optaram por colocar todos nós, e mais três assaltantes no carro deles, abandonaram o nosso no local”, resumiu o empresário.
Cerca de 2,5 km do local, os bandidos guardaram o Corolla na garagem estreita de uma casa acanhada, e roubaram aparelhos celulares, relógios, anéis, brincos e outros pequenos objetos. A partir daquele momento, quando eram 10h30, um dos bandidos ligou para o líder da quadrilha e começou a série de transferências bancárias via boletos e pix. Até serem libertados, Zezé, Elenice, Luana e Luma permaneceram dentro do Corolla com os vidros fechados, sem água e impedidos de ir ao banheiro.
“Com o telefone no viva-voz, o cara me pediu a senha, mas informei a numeração errada. Nervoso, ele me disse que não era brincadeira e eu morreria ali caso não revelasse os números corretos, e os bandidos ao nosso lado dentro do carro, com os revólveres nas nossas cabeças. Depois de mim, foi a vez da Elenice ter que revelar a senha de três contas bancárias. Fomos tomar conhecimento dias depois, que eu perdi R$ 49.400 e minha esposa R$ 96 mil”, revelou Zezé.
Depois de tudo isso, os bandidos ainda tentaram conseguir mais R$ 100 mil através de um parente do ex-prefeito, mas ele disse que não tinha condições de saber quem tinha a quantia. Lembrou do seu cunhado, que é delegado em São Paulo, e ao dizer o nome, o líder do bando comprovou a veracidade e desistiu.
Por último, baixou o valor para R$ 50 mil, e Zezé lembrou de um amigo e autoridade jurídica em Passos. Ao checar na internet, confirmou sua profissão e a solicitação de mais dinheiro foi cessada. “Um dos bandidos perguntou a um outro onde ia nos deixar e depois de um acordo, tentaram ligar o motor do Corolla, que teve a bateria arriada por causa do funcionamento do ar-condicionado. Buscaram outra peça e não deu certo. Por fim, veio o Gol velho e nos libertaram sem sabermos onde estávamos”, contou.
Zé e a família caminharam até um salão de beleza, onde receberam apoio e água. O dono do estabelecimento acionou a Polícia Militar, que compareceu ao local e os levaram para a delegacia de Polícia Civil onde foi lavrado o boletim de ocorrência. Naquele exato momento, o caminhão-guincho da concessionária Ecopista estava chegando com o carro que as vítimas viajavam, encontrado abandonado por policiais no mesmo local onde se iniciou o crime. Nenhum dos pertences da família foi levado.
No início da noite do dia 17, o filho mais velho, Lucas Maia, de 22 anos, ficou sabendo do sequestro-relâmpago, compareceu na delegacia e a família voltou para Santos, onde reside. Só no dia seguinte, Zezé. Elenice, Luana e Luma regressaram a Passos e depois seguiram a Delfinópolis, onde residem.