Facilmente se pode entender que alguém, técnico, jornalista, político ou pessoa do mundo do Direito, em qualquer país, regime ou idioma, expresse uma opinião ou tome uma atitude equivocada. O erro é inerente à natureza humana. Quem sabe mais erra menos; quem sabe menos erra mais. Aprende-se dos erros de quem erra querendo acertar. Estas observações, intuitivas a quem seja medianamente esclarecido, encontram barreira irremovível em todo Robespierre temporão que se considere editor-chefe das verdades nacionais e passe a tratar a divergência como inimiga pessoal, incidindo sobre ela a mão pesada do Estado.
Se errar é humano, como ensina a sabedoria popular com arraigada experiência individual e coletiva, não errar é divino. Certo? Em vista disso, a história dos povos tem o mau hábito de gerar, aqui e ali – não em gruta, como a de Belém, mas em palácios de areia – falsos deuses que reivindicam à plebe peregrina homenagens com incenso, ouro e mirra.
Enquanto, por um lado, podemos aceitar os erros próprios e alheios provenientes de sincero empenho em acertar, por outro, não são moralmente toleráveis os que, quando praticados, deixam rastros de vergonha e deformidade, dores e lágrimas. Produzem surtos de aflição e epidemias de desalento.
A história não guarda bom registro desses tiranos. Todos comungaram na mesa do uso abusivo, excessivo, individualista e sádico do próprio poder. Não há para eles qualquer “memorial da pátria reconhecida”. Nenhum panteão guarda o pó em que se consumiu sua vaidade.
Observei atentamente certos tiranos da contemporaneidade. Alguns já passaram. Outros estão por aí. Aprendi sobre eles. A vaidade que sentem está na razão direta da pequenez de seus corações e da feiura de seus pensamentos. A coragem que cuidam de ostentar é filha da fraqueza interior. O medo que causam nasce do medo que sentem. O ódio que os alimenta é proporcional ao amor que não inspiram. Sabem o quanto são falsos os elogios dos cortesãos. São louvações que não consolam, mas aviltam; que não alegram, mas deprimem.
Também seus povos são povos tristes. Não é assim no reino do verdadeiro Deus, cujo jugo é suave e cujo fardo é leve.
Percival Puggina, 80, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org)