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‘Exorcista’ volta mais aterrorizante

13 de outubro de 2023

Lidya Jewett, à esquerda, e Olivia O'Neill em 'O Exorcista - O Devoto' <7h> Universal Studios./ Foto: Divulgação.

CINEMA

Meio século atrás, o grande William Friedkin dirigiu “O Exorcista”, estourando recordes de bilheteria e impressionando o público. Agora David Gordon Green, não satisfeito em explorar a franquia Halloween com uma trilogia de sequências irregulares, voltou para dar o mesmo destino a um dos filmes de maior bilheteria da década de 1970.

Começando com “O Exorcista – O Devoto”, este mais recente projeto de reciclagem vai continuar com “The Exorcist: Deceiver”, planejado para 2025. Nenhuma palavra ainda sobre o terceiro.

Se sua principal reclamação com o original era o foco em uma única vítima e no dogma de uma única denominação religiosa, então esta sequência superpovoada tem o que você precisa. Acreditando claramente que mais é melhor, o roteiro de Green e Peter Sattler (que ignora os filmes intermediários da franquia) nos dá o dobro de possessões, mais do que o triplo de crenças e um bando de exorcistas entusiasmados. Boa sorte para acompanhar tudo.

O cenário é montado bem rápido: treze anos depois de perder a esposa grávida em um terremoto no Haiti, Victor Fielding (Leslie Odom Jr.) e a filha, Angela (Lidya Jewett), se estabelecem na Geórgia. Fora tolerar uma vizinha mal-humorada (Ann Dowd) e suas reclamações sobre a maneira como Victor lida com o lixo, pai e filha parecem felizes. Aí Angela e sua amiga Katherine (Olivia O’Neill) vão fazer uma brincadeira espiritual na floresta e voltam três dias depois com memórias vazias e comportamentos perturbadores. Traga a água benta!

Comparado aos padrões muitas vezes medíocres dos incontáveis reboots de hoje, “O Exorcista – O Devoto” é profissional e suas jovens artistas estão mais do que à altura da tarefa. Mas também é decepcionantemente cauteloso, fazendo um aceno quase imperceptível à potente trama de puberdade, religião e abuso corporal do filme original.

Embora ninguém esteja pedindo repetições preguiçosas da infame cena de masturbação ou daquele saca-rolhas (ainda que ambas sejam sugeridas aqui), há muitas maneiras de um cineasta cultivar um solo temático tão fértil. Em vez disso, Green se contenta com ajustes sem maiores consequências, como mudar o gênero da entidade maligna do primeiro filme. Você achava que todos os demônios eram homens? Que vergonha!

Injetando uma bem-vinda pitada de atuação do tipo “é assim que se faz”, Dowd (cuja personagem revelará profundezas espirituais ocultas) e Ellen Burstyn (repetindo seu papel como Chris MacNeil, a agora distante mãe da vítima original) possibilitam que o filme dê uma respirada aqui e ali.

As reflexões sonhadoras de cidadezinhas de interior sobre o amor e a sobrevivência, entre as fábricas têxteis em ruínas e os trilhos ferroviários do Sul rural, revelaram um talento incomum para identificar o drama da decadência. Essa sensibilidade agora foi sacrificada ao canibalismo das ideias recicladas. E embora eu não faça pouco de seu sucesso, sinto falta do cineasta que ele era.

O EXORCISTA – O DEVOTO (The Exorcist – Believer). EUA, 2023. Gênero: Terror. Direção: David Gordon Green. Elenco: Ellen Burstyn, Leslie Odom Jr., Ann Dowd. Cine Roxy, em Passos, 21h20 (Dub). Cine A, em Paraíso, 21h.