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Ex-professora e aluna se reencontram após 70 anos

4 de outubro de 2024

Dona Roma, aos 95 anos, durante o reencontro com a ex-aluna Gessy./ foto: Divulgação

Leonardo Natalino

PASSOS – Quanto tempo dura uma lembrança? Para a ex-professora Roma Joaquina Daniel, ao menos, 70 anos. Com 95 anos, ela reencontrou, nesta quinta-feira, 3, após 70 anos, uma das centenas de ex-alunas que teve durante os anos de magistério na zona rural de Capitólio.

Roma Joaquina, ou apenas dona Roma, como é conhecida, é natural de Capitólio, mas reside em Passos desde 1965, após se aposentar das salas de aula, em 1964. Ela iniciou a carreira como professora em 1949, na escola primária da zona rural de Capitólio, no local conhecido como Pari Velho.

Na última terça-feira, 1º, em uma reunião social comunitária, uma das filhas de dona Roma, durante conversa com uma integrante do grupo, descobriu que uma irmã dela havia sido aluna da mãe há cerca de 70 anos, em Capitólio.

A aluna é Gessy da Silva Leite, de 78 anos. Ela foi aluna de dona Roma durante a década de 1950. Natural de Capitólio, mudou-se para Passos em 1964. E, após se casar, foi morar em São Paulo, onde ficou 33 anos, até retornar para Passos, em 2003.

Empolgadas com a coincidência, agendaram o reencontro entre dona Roma e Gessy, na casa da ex-professora, para uma tarde de conversa e recordações.

Na véspera do encontro, Paulo Henrique Daniel, o sétimo dos oito filhos de dona Roma, acreditava que, mesmo com o longo período sem se encontrarem, a ex-professora iria reconhecer Gessy.

“Em um primeiro momento, talvez, dona Roma, pela idade, inúmeros alunos que educou e tempo passado, não se lembre exatamente desta ex-aluna. Contudo, fatos únicos e particularidades daquele tempo conversados entre elas possam reavivar a memória e aflorar emoções que conduzam a lembranças da ex-aluna”, disse Paulo Henrique.

E foi exatamente o que aconteceu.  “Você não sabe a emoção que eu estou sentindo por reencontrar ela. É muito gratificante reencontrar ela. O conhecimento que tive, que adquiri desde criança, foi com ela. Foi muito importante saber que ela lembra de mim. E hoje eu estou assim: muito emocionada, por estar aqui, ao lado dela”, disse Gessy Leite.

“Eu fico muito feliz, por que quantos anos? Quantas crianças passaram?  E ela ainda se lembra de mim. Olha que coisa boa. Quer dizer que eu fui uma boa aluna. Fui estudiosa, não fui arteira”, completou, emocionada, a ex-aluna.

Durante o encontro, a terceira filha de dona Roma, Maria Heloisa Daniel, relatou que a mãe comentava sobre Gessy durante conversas sobre o passado. Além disso, dona Roma tem o costume de ler um livro que conta diversas histórias sobre Capitólio, entre elas, a da família.

Outro livro que faz parte da rotina diária de leitura de Roma foi produzido pelo neto João Gabriel Rodrigues Santiago Daniel, quando ele tinha apenas 11 anos, e que relata a história da avô ex-professora.

Dona Roma nasceu em 1929, na zona rural de Capitólio. Ainda criança, foi vítima de paralisia infantil, que acometeu uma das pernas dela, e, nesse mesmo período, decidiu que seria professora.

Os pais a conduziram para estudar em Capitólio, onde formou-se professora na escola do padre João Machado, em 1948. E como na zona rural de Capitólio não existia escola pública, o pai de Roma, Ireno Vaz dos Santos, doou para o estado uma área da fazenda dele para construção de uma escola.

Dona Roma conheceu o marido, Oswaldo Daniel, durante a construção da escola. Ele fez parte da equipe de construtores. Também durante a construção, a Secretaria de Educação do estado realizou um concurso público para a escolha da professora, e Roma foi aprovada.

“Dos oito filhos que tiveram, os três mais velhos tiveram a alegria e privilégio de serem alunos da própria mãe. Hoje, somos todos formados e com uma enorme gratidão pela educação que recebemos de nossos pais, em especial de nossa mestra e mãe, dona Roma”, disse Paulo Henrique.

A escola primária na zona rural de Capitólio existe até hoje. De escola estadual, tornou-se municipal, com nome Escola Municipal Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. O Centro Comunitário da instituição leva o nome do pai de Roma, Ireno Vaz dos Santos, como homenagem.

Dona Roma é mãe de Antônio Rogério Daniel, Maria Ronilda Daniel, Maria Heloisa Daniel, Luiz Antônio Daniel, Maria Eliza Daniel, Luiz Flávio Daniel, Paulo Henrique Daniel e Júlio César Daniel.