SÃO PAULO – Mais de três mil mulheres, produtoras rurais e profissionais do agronegócio, participaram, em São Paulo, nos dias 25 e 26 de outubro, do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio – CNMA, o maior evento do setor da América Latina. O tema deste ano “Dobrar o Agro de tamanho com sustentabilidade: A Marca Brasileira” abordou o tripé: segurança alimentar, segurança energética e segurança ambiental, além de reforçar o papel das mulheres do agro como líderes conscientes da necessidade de diálogo e aperfeiçoamento dessas bases.
Foram dois dias de muita informação e troca de experiências com produtoras de todo país, dos mais diversos setores da pecuária e agricultura, nos espaços criados para o evento como a arena master, o agroédelas, o agro não para e hub técnico. A importância do Congresso para a capacitação, a troca de experiências e a mudança de postura na gestão do negócio foi destacado pela maioria das produtoras ouvidas pela reportagem. De São Gotardo, integrantes do grupo de mulheres da Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba- Coopadap, e participantes do evento desde a primeira edição, destacaram a importância do evento e ressaltaram que as capacitações promovem uma mudança ne gestão do negócio e mudança de vida.
O tema deste ano foi amplamente apresentado para as congressistas desde a abertura do evento. A necessidade de aumentar a produção foi abordada de várias maneiras, mas ficou evidente o potencial do país em aumentar a sua produção de forma sustentável, sem desmatamento.
“O Brasil é o único país do mundo que pode oferecer essa trilogia (segurança alimentar, energética e ambiental) de forma convergente, na qual cada uma das pernas do tripé tenha sinergia com as demais. No sistema agroalimentar, somos convocados a aumentar a produção de alimentos, já que podemos expandir sem cortar uma única árvore”, pontuou José Luiz Tejon, curador de conteúdo do evento.
A Embrapa, presente no evento com a presidente, Silvia Masrruhá e outras técnicas da instituição, confirmou a informação e ressaltou que já identificou 30 milhões de hectares à disposição do agro brasileiro. Atualmente, segundo a instituição, a área que está inativa pode ser usada para dobrar a produção de grãos do país, levando em 10 anos a cerca de 600 milhões de toneladas de produção.
A diretora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq\USP), Thais Vieira pontuou uma outra linha, que antes de produzir mais temos que parar de perder alimento. Thaís destacou os dados do CEPEA, de outubro, que mostram que o agro representa 24% do PIB do Brasil em 2023 (com pequena redução), e irá alcançar até o fim do ano 2,6 trilhões de reais. O setor somou em outubro 28,3 milhões de pessoas em postos de trabalho, valor recorde acumulado desde 2012, com destaque para os setores de agro serviços e insumos.
“Estes dados comprovam que sim, vamos dobrar nosso agro e chegar a 500 milhões de toneladas em 2040. Mas realmente precisamos? Provavelmente não. Antes de começar a produzir é fundamental evitar o desperdício do que já está sendo produzido. Nós produzimos muito, somos os maiores exportadores de grãos, com safras recordes, porém atingimos o nosso limite. Esse é um sistema tão complexo e passou da hora de olharmos nossos gargalos para valorizar o alimento que é produzido com tanta responsabilidade e de forma sustentável, por meio de métricas auditáveis no mundo inteiro, mas também com a redução de desperdício”, detalhou Thais.
O professor emérito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Roberto Rodrigues enfatizou a força dos países tropicais no aumento da produção de alimentos e que o Brasil vai liderar esse setor. Segundo Rodrigues, no Brasil a agricultura tropical vai resolver os três gargalos que são segurança alimentar, segurança energética e mudanças climáticas. “Quem vai liderar essa revolução é o Brasil, pois desenvolvemos internamente uma tecnologia tropical sustentável que mostra a exaustão como somos eficientes, produtivos e sustentáveis. Não somos mais o país do futebol, somos o país da segurança alimentar e da paz, pois não há paz enquanto existe fome”, finalizou Roberto Rodrigues.