Luciene Garcia
PASSOS – A influência do uso da terra sobre a presença de microplásticos nos peixes de riachos do Cerrado mineiro. Foi essa a conclusão do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da bacharela em Ciências Biológicas da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), Luana Carolina Rabelo da Silva, de 23 anos. O estudo abrangeu áreas em Passos, Delfinópolis e São João Batista do Glória.
Devido ao seu pequeno tamanho, os microplásticos são facilmente transportados pelo ar e pela água, poluindo ecossistemas como córregos. Esse material pode carregar diversas substâncias químicas potencialmente perigosas que, ao entrar no corpo humano, podem causar danos celulares, hormonais e respiratórios. Em peixes pequenos, pode provocar bloqueios intestinais e danos a órgãos internos.
O plástico é encontrado em todos os ambientes. Como resultado da fragmentação do produto, são originados os microplásticos que podem ser criados pela indústria estética por exemplo, ou por fenômenos naturais de degradação. Os microplásticos são partículas de cinco milímetros de comprimento que apresentam várias formas e cores, e uma ampla distribuição que faz com que este composto seja encontrado em ambientes aquáticos, como riachos.
“Por serem encontrados nestes ecossistemas, os microplásticos ocasionam problemas fisiológicos e metabólicos nos organismos, e por se acumularem pela cadeia alimentar, este composto pode chegar até os seres humanos causando outros inúmeros malefícios”, afirma Luana.
O objetivo do estudo foi analisar a influência do uso da terra na abundância de microplásticos na coluna d’água, sedimento e nos peixes de riachos do Cerrado mineiro. Foram coletados 275 espécimes de peixes para análises sendo que, das 20 espécies coletadas, apenas oito indivíduos não apresentaram microplástico no trato digestório.
Nas análises da água foram encontradas 388 partículas e no sedimento 135 partículas plásticas, tendo dominância do formato fibra na cor preta. Todas as análises feitas mostraram que o uso da terra não apresenta relação com a quantidade de partículas microplásticas encontradas, o que pode estar relacionado com alta interferência humana na área. Possivelmente este é o primeiro trabalho relacionando usos da terra como a agricultura e a pecuária com abundância de microplásticos e mostra que as bacias do Médio Rio Grande, onde foram efetuadas as coletas, possuem baixos níveis de vegetação nativa e uma poluição generalizada. Por isso, entender estas interferências sobre os ambientes de riachos é de extrema importância para equilíbrio dos ecossistemas e a não sobreposição de espécies.
Foram coletadas 275 espécimes de peixes das ordens Characiformes, Siluriformes e Cyprinodontiformes com predominância de indivíduos nas espécies Astyanax aff. paranae (lambari),Poecilia reticulata (Guppy) e Phalloceros harpagos (Barrigudinho).
A professora doutora Naraiana Loureiro Benone, orientadora do TCC, explica o seguinte: “Notamos que a mata ciliar dos córregos está degradada e muito estreita. Essa vegetação é importante, pois ela ajuda a manter uma boa qualidade ambiental nos córregos e impede que muitos poluentes atinjam os cursos d’água. Por isso, entender como o desmatamento e a alteração dos ecossistemas estão relacionados com a poluição por microplásticos nos cursos d’água é um passo fundamental para planejar medidas que diminuam esse problema”.