CARLOS RENATO
PASSOS – Instituições de ensino particulares e públicas em Passos têm proibido o uso de telefones celulares por alunos dentro da sala de aula. Nesta semana, o Colégio Imaculada Conceição (CIC) criou um local específico onde deverão ser armazenados os aparelhos.
Segundo informa a instituição, os celulares ficarão guardados em segurança e serão devolvidos aos alunos ao final do período letivo diário. “Quando necessário e para fins pedagógicos, os celulares serão utilizados sob solicitação e orientação expressa dos professores”, aponta.
A professora de Português Fernanda Lima recorda que o celular em sala de aula para fins pedagógicos é um grande aliado, pois desperta o interesse do aluno para o aprendizado.
“Há ferramentas tecnológicas interessantíssimas, como, o kahoot, que é uma plataforma de aprendizado baseada em jogos, usada como tecnologia educacional em escolas e outras instituições de ensino”, afirma.
Porém, Fernanda também reforça que o smartphone é usado de maneira não proveitosa pelos alunos, pois, tiraria o foco na aprendizagem. “Eles ficam totalmente dispersos e ansiosos. Um minuto que distraem com as redes sociais, eles não conseguem mais acompanhar a dinâmica da explicação e muito menos realizam as atividades propostas em sala”, aponta a professora, que leciona na Escola Estadual São Gabriel, em Cássia.
Conforme o professor de História Dione José, que leciona na Apac e na Escola Estadual Caetano Machado, em Passos, esse tema é preocupante, principalmente dentro das escolas públicas. “A juventude está perdendo o interesse do estudo e da pesquisa, para focar apenas no celular”, afirma.
“Na Apac é proibido o uso de celular, tanto pelo profissional, quanto pelo aluno, e a participação na aula chega entre 80% e 90% de aproveitamento, porque o foco desse aluno se concentra exclusivamente no conteúdo dado pelo professor. Na (escola) pública, esse aproveitamento não chega a 50%. O ‘mundo’ da educação está complexo”, aponta.
A Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Passos informa que a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) trata o uso de aparelhos celulares nas escolas da rede pública estadual dentro da regulamentação da Lei Estadual nº 23.013/2018, que versa sobre a permissão do celular em salas de aula, teatros, cinemas e igrejas.
Conforme a legislação vigente, no ambiente escolar os celulares devem ser usados estritamente com finalidade pedagógica e para assuntos inerentes ao contexto educacional.
A SRE destaca que no início de 2022, a SEE/MG lançou o guia “Uso de Smartphones como Ferramenta Pedagógica”, documento que orienta as escolas sobre as formas de utilização dos aparelhos em sala de aula e acesso aos recursos pedagógicos disponibilizados pela pasta, dentre eles, o aplicativo “Conexão Escola”, as teleaulas do programa “Se Liga na Educação”, além de ferramentas do “Google Sala de Aula” e outras plataformas.
Em conformidade com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a SRE informa ainda que cabe à escola discutir com a equipe pedagógica outras normas, metodologias e objetivos para a utilização do considerando seu papel formativo.
A Secretaria de Educação de Passos informa que é proibido o uso de celulares nas escolas municipais. “O uso é permitido somente, em situações com planejamento prévio das atividades e sob a supervisão/orientação dos professores. A liberação do uso do celular, sem controle e monitoramento, causa prejuízos ao trabalho pedagógico, dificultando assim a concentração e atenção necessárias na sala de aula”, informa a secretaria.
De acordo com a pasta, essas orientações são dadas em reuniões com os diretores e equipe educacional. “Considerando a contribuição da tecnologia aplicada à educação, todos os alunos do ensino fundamental anos finais (6º ao 9º ano) têm acesso às aulas com o tablet. Essas aulas são planejadas junto à Coordenação Pedagógica da Secretaria de Educação e em conformidade com o planejamento bimestral”, informa.
“Com o tablet é possível explorar vídeos, atividades mais dinâmicas como quiz, e vários aplicativos que ajudam a despertar o interesse e a motivação do aluno para os assuntos estudados”, aponta.
Profissional enfatiza o equilíbrio entre a tecnologia e o aprendizado
PASSOS – Em um comunicado enviado aos pais, as escolas que proibiram o uso de celular usaram como referências artigos e reportagens para justificar a decisão. As instituições citam que estudos recentes têm identificado diversos problemas associados ao uso excessivo desses aparelhos pelos estudantes.
Segundo o professor e psicanalista em Passos Diego Araújo, a restrição do uso de celulares é uma prática que muitas instituições devem adotar para tentar melhorar o foco dos alunos e criar um ambiente mais propício ao aprendizado.
“Esta medida busca um equilíbrio entre a tecnologia e o ambiente de aprendizado. Não é uma decisão contra a tecnologia, mas que leva em consideração que o uso exagerado desses aparelhos, que é um elemento de distração e que, principalmente, gera prejuízo ao desenvolvimento individual, desempenho escolar e sociabilização dos alunos, além de também terem efeitos negativos para a saúde mental dos estudantes”, destaca Araújo.
Segundo ele, as instituições de ensino devem planejar a forma correta de se portarem diante da restrição. “As escolas deverão adotar medidas administrativas para internos, comunicação aos responsáveis legais dos estudantes e orientação aos profissionais envolvidos na docência do ensino”, disse.
Para o psicanalista, a maioria desses estabelecimentos ainda está em fase de adaptação às novas mudanças tecnológicas. “Elas devem destacar aos estudantes sobre a importância de manter o foco durante as aulas e de respeitar o trabalho dos professores. O uso excessivo de smartphones e outras tecnologias móveis pode ter uma série de impactos negativos na saúde mental”, ressalta.
“A infância é um momento de estruturação em que o cérebro, o corpo e o psiquismo estão em formação. As experiências de vida são decisivas para quem a criança será no futuro e, por isso, é tão importante discutir esse assunto em casa, na escola e na sociedade”, disse.
Segundo Diego, a internet e as redes sociais dificultam a socialização, levando a um processo de atividades individualizadas, sendo antes, algo coletivo. “Dar um tablet para uma criança ficar quieta pode significar abrir a porta para um estado de passividade. Entre os argumentos para eliminar os celulares das salas de aula, está à maneira como eles (celulares) afetam as habilidades sociais dos estudantes”, reforçou o psicanalista.
“Muitas vezes, é preciso desligar os celulares, porque eles roubam a possibilidade de construir relacionamentos, estabelecer conversas ou momentos de diálogo, seja entre colegas e professores, ou até mesmo nas famílias. O uso excessivo do celular não é apenas a perda da atenção, mas uma perda cognitiva. A criança não consegue mais ter concentração para ler um livro ou ouvir as instruções do professor”, completou.