Débora Meira
DELFINÓPOLIS – A Escola Municipal Professora Maria Dias Machado, no distrito de Olhos D’Água, em Delfinópolis, realizou na última quarta-feira, 24, uma palestra sobre o combate à homofobia, com a psicóloga Inêz Olímpia Bernardes de Souza
De acordo com a palestrante, Inêz Olímpia Bernardes de Souza, a iniciativa do evento partiu da diretora da escola, Ana Paula dos Santos Cardoso. “Ela que pediu para abordar essa discussão, pois estava tendo problemas com os alunos, então viram a necessidade de trabalhar essa temática com eles. Nós fizemos uma roda de conversa a respeito do tema, onde tratamos do conceito ‘fobia’ e, em seguida, desenvolvemos o assunto da homofobia com uma dinâmica que trabalhou a empatia entre os alunos”, disse a profissional.
“Os alunos inicialmente sentiram timidez, mas depois alguns conseguiram se expressar. Com a roda de conversa a comunicação ficou mais efetiva e a dinâmica também funcionou como um quebra-gelo e um momento divertido e de aprendizado”, ressaltou.
“A palestra foi importante, no sentido de conceder a devida consciência a respeito da homofobia e todas suas consequências negativas como a violência psicológica e física. Enfatizamos valores como a empatia, no sentido de sempre se colocar no lugar do outro e o respeito pela vida e pela singularidade do outro. A importância de trabalhar esse assunto em sala de aula é de poder acolhê-los, com a finalidade de sempre oferecer uma ajuda profissional”, enfatizou a psicóloga.
Segundo a doutora em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professora e pesquisadora sobre estudo de gênero e sexualidade, na Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), Flávia Paniz, as palestras sobre a luta contra LGBTfobia são importantes, principalmente, para reafirmar a existência de direitos e diminuir violências contra as pessoas LGBTQIA+.
“Vivemos em um país no qual um dos argumentos mais utilizados por setores conservadores para questionar a validade da existência de pessoas LGBTQIA+ é o de que somos uma moda passageira, de modo a contribuir para a nossa morte social e para interditar os debates que nos atravessam. Além disso, o Brasil é um país onde não existem dados oficiais, produzidos pelo Estado, sobre a comunidade”, disse.
“Logo, esses eventos são oportunidades para visibilizar no debate público as nossas experiências, nossas conquistas e nossas demandas. Pois também contribuem para diminuir o sentimento de solidão compartilhada por muitas pessoas quando percebem como LGBTQIA+, de modo a produzir uma ideia de família, na qual as pessoas podem encontrar apoio”, ressaltou.
Segundo a pesquisadora, as pessoas que não fazem parte da comunidade podem ajudar a acabar com o preconceito e a discriminação criando espaços de acolhimentos, locais onde todos possam se sentir bem-vindos e seguros.
“Acreditamos na promoção de políticas públicas voltadas para pessoas LGBTQIA+ como a principal ferramenta para educar a sociedade no respeito à diversidade e para preparar profissionais em diferentes áreas de atuação para atender às nossas demandas”, disse.
Para o doutorando em História pela Unicamp e pesquisador no Acervo Bajubá e no VoteLGBT, Marcos Tolentino, existe uma ideia de objetificação das pessoas da comunidade e essa situação estaria enraizada na sociedade brasileira. “Pessoas LGBTQIA+ são parte da sociedade brasileira e tais preconceitos são estruturais em nossa sociedade. O fato de você fazer parte de um grupo entendido como minoritário, não nos exime de reproduzir outros tipos de preconceito, principalmente os estruturais. Nos últimos anos, tais debates têm sido pautados por pessoas LGBTQIA+ nos meios de comunicação, na cultura e nas redes sociais”, disse.
De acordo com um dos membros do grupo NEGS, em Passos, que estuda e pesquisa gêneros e sexualidades, Maria Paula de Souza Pereira, reforçou que projetos sobre a temática existe em todos os Institutos Federais do Sul de Minas.
“O intuito maior é trazer a comunidade para dentro do campus e fazer com que as pessoas que já estão inseridas dentro do Instituto discutam e conversem sobre a comunidade LGBTQIA+. São vários grupos de estudo, de pesquisas acadêmicas, nós promovemos palestras e escrevemos sobre vários temas, debatemos e promovemos eventos também, para orientar os alunos e a sociedade, para colocar em prática todo o conhecimento aprendido”, disse.
Advogada reforça necessidade de leis que protejam essas pessoas
Segundo a advogada, Karoline de Carvalho, mesmo com a Constituição Federal de 1988 considerando que todos são iguais perante a lei, não existia ainda uma proteção para a comunidade. “Com a demora dos senadores e deputados em criarem uma lei que trate especificamente sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal precisou equiparar, em 2019, a LGBTfobia ao crime de racismo, visando o combate a todo tipo de discriminação. No caso, da LGBTfobia, quem comete esse tipo de ataque passa a ser punido com reclusão e multa, além de ser crime inadmissível e inafiançável. Ainda, segundo o STF, a LGBTfobia pode ser considerada como qualificadora de motivo torpe, em casos de homicídio doloso”, explicou a advogada.
“Mesmo com essa evolução, os casos de LGBTfobia não diminuíram, mas observamos que a população LGBTQIA+ tem se sentido mais segura na busca por seus direitos, o que não ocorria antes. No entanto, ainda temos um grande caminho a ser percorrido, pois há grande negligência do estado na garantia de seus direitos fundamentais, além de erradicar preconceitos e discriminações enraizados na sociedade”, disse.