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Entre jogos da vida

Foto: Divulgação

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

A metáfora (ou comparação) da vida como uma partida de futebol é interessante em muitos aspectos. À tona, uma verdade profunda: é preciso ter estratégia, disciplina e paixão para alcançar os objetivos.  Se na vida é assim, numa partida de futebol não é diferente.

O jogo da vida exige equilíbrio entre a técnica e a emoção, entre a prudência e o arrojo. Tese sugestiva e não menos provocativa é a tal felicidade – licença concedida, entra no jogo – a ser alvo de análise, já que ela não é apenas o gol, mas todo o jogo a ser jogado, já que para muitos é uma sequência de bons momentos. Ou haverá algo mais?

Minha sobrinha Mayumi Fenelon Miyoshi, dos jardins da pauliceia desvairada, certa feita me escreveu assim: “Life’s moments”, em tradução simples de que “a vida é feita de momentos”. Na inserção de momentos, de se acrescentar que há, sim, bons momentos e outros nem tanto. Outros, ainda, tormentosos e agressivos; melhor virar a página para a coletânea de novas histórias. Sim, a felicidade também pode ser entendida como a satisfação de tudo que encontramos pelo caminho, mesmo quando nem tudo são vitórias.

Sobre a felicidade, no muito que se joga neste capítulo, seja na forma como a jogamos, na intensidade com que a vivemos, como aproveitamos, até os intervalos do jogo, é tema a ser levado em consideração. A verdade é que existem manifestações à exaustão sobre felicidade. Fico naquela em que, não importa o que passamos no dia a dia, devemos buscar sempre o equilíbrio na satisfação e nas insatisfações dos fatos correntes e recorrentes do cotidiano.

Para o filósofo grego Aristóteles, antes de Cristo, a felicidade é uma das principais buscas do ser humano. Para ele, “a felicidade é o equilíbrio e harmonia, e a prática do bem”, ou seja, “o objetivo final é o mais alto da vida humana”. Junto a isso, não se joga diferente, incluso o termo “eudaimonia”, que carrega os sentidos de “prosperidade”, “riqueza”, “boa fortuna”, “viver bem” e “florescimento”. Outros fatores, outras análises, mesmo porque há quem discorde. De viva memória, as pessoas mais importantes e reconhecidamente mais felizes do mundo viam na natureza a completude de suas satisfações. Nada a ver, portanto, com bens materiais. Pelo contrário, no muito, no excesso, podem e sugerem complicação. Fiquemos, então, no aprimoramento das virtudes. Não se esquecendo da prática do bem.

No entrelaçamento, não há vitória sem esforço, e, muitas vezes, o placar final não é o mais importante, mas sim como jogamos, como superamos os desafios e como crescemos ao longo da partida. A felicidade pode ser o simples ato de participar do jogo com autenticidade e propósito. Afinal, somos os protagonistas e, ao mesmo tempo, os torcedores mais apaixonados de nossa própria partida e jornada. A história deve contar.

Essa dualidade é o que torna a vida tão fascinante. Como protagonistas, somos responsáveis por cada jogada, cada decisão, cada passo no campo da vida. Somos nós que chutamos a bola em direção ao gol ou escolhemos passar a bola para o jogador mais próximo do time, esperando o momento certo para o chute a gol.

Por outro lado, como torcedores, vibramos com nossas conquistas, sofremos com os tropeços e, acima de tudo, continuamos acreditando, torcendo por nós mesmos, mesmo nas fases mais difíceis. Mesmo porque nem tudo são flores.

Essa paixão por nossa própria jornada é o que nos mantém vivos, em movimento. Ninguém mais pode ocupar nosso lugar nesse jogo. Cabe a cada um de nós decidir se vamos apenas participar ou jogar com todo o coração, buscando sempre a vitória que realmente importa: viver com propósito, intensidade e autenticidade.

No jogo da vida – em que para muitos as jogadas espúrias e a qualquer preço valem mais do que a dig nidade humana – devemos nos ater de que a prudência e a cautela devem se curvar e ceder espaço ao talento individual e coletivo na prevalência do bem. E ainda que truncado, difícil e penoso, a disputa de cada jogada deve ser dentro das quatro linhas, na obediência às regras do jogo.

Assim, entre torcidas organizadas (e as nem tanto), tomemos cada instante da vida como uma jogada a ser implementada, com resiliência, paciência e coragem. A vitória pode acontecer ou não. Lutar com paixão e propósito deve ser o desafio!

Sendo assim, fazendo porta-voz para o arremate a expressão atribuída ao imperador romano Júlio César: “A sorte é lançada!”.

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)

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