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“Empréstimo do Lula” é declaração pública de safadeza eleitoreira

Foto: Reprodução

J. R. GUZZO

O mais recente programa de bondades do governo Lula, lançado agora em março com o nome de “Crédito do Trabalhador” e apelidado pela claque oficial de “empréstimo do Lula”, é uma declaração pública de safadeza eleitoreira como poucas vezes se viu na história da administração pública brasileira. Não tem nada a ver com “crédito” ou com “trabalhador”. É, isso sim, uma tentativa de comprar votos para 2026 com dinheiro público – e, pior ainda, com o dinheiro do próprio trabalhador que o governo diz querer “ajudar”. Trata-se de uma jogada que mistura má-fé, oportunismo e o mais puro cinismo político. O objetivo não é aliviar a vida de ninguém, mas garantir a reeleição do presidente e a perpetuação do PT no poder.

O tal “empréstimo do Lula” é, na verdade, uma linha de crédito consignado que usa como garantia até 10% do saldo do FGTS do trabalhador e 100% da multa rescisória em caso de demissão. A ideia, segundo o governo, seria oferecer juros mais baixos e “tirar o trabalhador da mão do agiota”. Mas o que se vê na prática é bem diferente. Simulações já mostram taxas que chegam a 5,5% ao mês – o que dá mais de 90% ao ano, um valor que rivaliza com os juros extorsivos do mercado informal. Em outros casos, como apontou o jornal O Estado de S. Paulo, um empréstimo de R$ 1 mil, pago em 12 meses, resulta em R$ 1,2 mil de volta – uma taxa anual de cerca de 43%, ainda abusiva se comparada a outras opções de crédito consignado disponíveis. Isso é “crédito barato”? Isso é “ajuda”? Não: isso é uma arapuca para endividar ainda mais quem já está com a corda no pescoço.

O pior, porém, está no uso do FGTS. Esse fundo, que deveria ser uma poupança de segurança para o trabalhador, uma reserva para emergências ou para a compra da casa própria, está sendo transformado em garantia de empréstimos a juros altos. É dinheiro do trabalhador, acumulado com suor ao longo de anos, sendo colocado em risco para engordar os lucros dos bancos – que, aliás, nunca ganharam tanto quanto nos governos do PT. Nos dois primeiros mandatos de Lula, os lucros bancários foram oito vezes maiores que na gestão anterior, segundo o Valor Econômico. Em 2023, primeiro ano deste terceiro mandato, os bancos bateram recorde histórico de faturamento, conforme dados do Banco Central. E agora, com o “empréstimo do Lula”, o governo entrega de bandeja mais uma fatia do bolso do trabalhador para o sistema financeiro, disfarçando tudo como “política social”.

A propaganda oficial, liderada pela ministra Gleisi Hoffmann, não deixa margem para dúvida sobre a intenção eleitoral. “Apertou o orçamento? O juro tá alto? Pega o empréstimo do Lula”, disse ela em vídeo que depois apagou, diante das críticas por violar o princípio da impessoalidade. O programa foi lançado com estardalhaço, registrado mais de 40 milhões de simulações em três dias, e é vendido como uma “revolução” para os 47 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Mas revolução para quem? Para o trabalhador, é um convite ao endividamento crônico – 76% das famílias brasileiras já estão endividadas, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor de 2025. Para o governo, é um trunfo de campanha: dar um dinheirinho na mão do povo agora, com pompa e circunstância, e deixar a conta para o futuro – de preferência, para o próprio trabalhador pagar.

Não há nada de novo nisso. Lula e o PT sempre se valeram da tática de usar recursos públicos para posar de salvadores da pátria. O “empréstimo do Lula” é só mais um capítulo dessa novela. É dinheiro público, direto na veia, e dinheiro público não é “do governo” e sim do próprio cidadão. Resumo da ópera: quem pegar “o empréstimo do Lula” vai pegar empréstimo de si mesmo, pagar juros altos por isso e ainda agradecer ao presidente como se fosse um favor. Não é política pública. É vigarice.

A expectativa de que o TSE venha a considerar que o “empréstimo do Lula” é abuso de poder econômico para influir nas eleições é zero. O tribunal, como se sabe, tem sido um aliado fiel do governo em suas empreitadas. Enquanto isso, o trabalhador, que o PT diz defender, segue sendo o maior prejudicado: endividado, sem acesso decente ao FGTS e refém de um sistema que o explora sob o pretexto de ajudá-lo. Se isso não é safadeza eleitoreira, o que mais poderia ser?

J.R. GUZZO é jornalista.

 

 

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