Opinião

Elo perdido do violão brasileiro

18 de novembro de 2024

Foto: Reprodução

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

A biografia “José Augusto de Freitas – elo perdido do violão brasileiro”, escrita por Jorge Mello e Celso Faria, explora a vida e obra daquele que foi um dos importantes músicos e instrumentistas brasileiros.

Natural de Rio Pomba, cidade localizada na zona da mata de Minas Gerais, discípulo de Quincas Laranjeiras e Agustín Barrios, Freitas (como era comumente chamado) inspirou-se em figuras como Catulo da Paixão Cearense, Francisco Tárrega, Carlos Garcia Tolsa, Andrés Segovia e Heitor Villa-Lobos.

Ativo na cena musical carioca entre as décadas de 20 e 40, Freitas e seu violão eram presença constante nas salas de concerto, nos saraus promovidos pelos clubes sociais, nos mais variados festivais de música, além de diversas emissoras de rádios (Sociedade, Cajuti, Transmissora, Vera Cruz e Ipanema). Não à toa tornou-se um dos principais concertistas da Era do Rádio e um dos pioneiros do violão clássico no Brasil.

Chegou a apresentar-se com artistas como Carmen Miranda, Radamés Gnattali, Chico Alves, Luperce Miranda, as irmãs Dircinha e Linda Batista, Ladário Teixeira, entre outros. A partir de meados da década de 40, além das tradicionais aulas de violão, Freitas começou a lecionar acordeão, instrumento popular na época.

Apesar de seu protagonismo por mais de quinze anos, Freitas é lembrado nos dias de hoje pela valsa “Soluços”, gravada por Dilermando Reis e incluída no seu LP “Saudade de Ouro Preto” (1966).

O violonista atuou com distinção entre as gerações de Américo Jacomino (Canhoto), Levino da Conceição e João Pernambuco e a de Dilermando Reis, Laurindo Almeida e Garoto, sendo considerado por Jorge Mello e Celso Faria como “elo perdido” na história do violão brasileiro.

Os autores da biografia – no que resultou a obra com metodologia literária e acadêmica – realizaram extensa pesquisa, incluindo consultas em jornais da época, visitas à cidade natal do violonista e entrevistas com familiares e amigos do violonista.

Jorge Mello é reconhecido por outros trabalhos: “Caminhos Cruzados, a vida e a música de Newton Mendonça” (coautoria), “Gente Humilde, vida e música de Garoto”, “Choros de Garoto” (coautoria), “A viagem musical de Nestor Campos”; por sua vez, Celso Faria é um renomado concertista de violão e professor, entre qualificações de importância, como a de apresentador do ciclo de entrevistas “O charme do violão mineiro” (veiculado em seu canal do YouTube), além de produtor cultural.

Publicado de forma independente, as últimas unidades do livro estão à venda diretamente com os autores, que podem ser contatados através de suas redes sociais (YouTube, Facebook e Instagram), ao valor de R$ 70,00.

No dizer de um modesto amante da arte física e imortal de um bom livro, vale a pena embrenhar-se na vida e trajetória artística de José Augusto de Freitas. Alguém que contribuiu consideravelmente para o enriquecimento da música clássica brasileira.
Em relevância, o trabalho de Jorge Mello e Celso Faria consagra beleza à sagrada arte do violão clássico, mediante riquezas de seu tempo e espaço.

A isto se adiciona o segredo de ser feliz, com o aroma da arte, como que na magia do cultivo de flores, lembrando a figura doce e amável de José “Pepe” Mujica (ex-presidente do Uruguai, para quem “a política não é uma profissão, mas, sim, o sentido que encontrou para a vida”. Para Freitas, a tônica da sua vida estava na música e nas delícias do prazer que ela proporciona.  Música – no meu sentir – uma das expressões mais puras da alma humana, já que transcende acordes e se conecta diretamente ao coração. Seja como refúgio, motivação ou deleite, a música é uma dádiva que torna a vida mais rica, profunda e repleta de sedução.

Em comparação lírica, a sonoridade e a interpretação de deliciosas notas musicais ao violão, no remanso da eterna e merecida homenagem ao talento de José Augusto de Freitas, figura singular na dedicação de tão belo trabalho de resgate por direito e glória.

A título de homenagem e para enriquecimento do acervo cultural, o livro “José Augusto de Freitas – elo perdido do violão brasileiro” é uma leitura imperdível para os amantes da música e da história cultural brasileira. Porquanto – a merecer jogo de palavras – a vida se torna mais cheia de encantos. Elo perdido do violão brasileiro? Em absoluto, um achado!

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)