6 de julho de 2023
Ember (fogo) e Wade (água): os dois formam um casal improvável, para não dizer impossível, em “Elementos”, nova animação da Pixar./ Foto: Divulgação.
CINEMA
Seguindo a tradição de temas caros à Disney/Pixar, a animação dirigida por Peter Sohn parte da oposição entre os quatro elementos fundadores da natureza – fogo, água, terra e ar – para compor uma história que discute desigualdade, preconceito, inclusão e amores supostamente impossíveis.
O roteiro, assinado por John Hoberg, Kat Likkel e Brenda Hsueh, concentra-se mais na dicotomia fogo/água, simbolizada pelos protagonistas Faísca e Gota, o inusitado par romântico do pedaço. O cenário é a cidade futurista, que dá o nome a animação, “Elemento”, em que os seres de água não têm problemas em circular pelos muitos canais e monotrilhos, sendo a classe ascendente. Terra e ar são apenas coadjuvantes neste mundo em que os seres de fogo são restritos à Vila do Fogo, uma espécie de periferia retrô colorida e animada, onde os pais de Faísca mantêm uma próspera loja.
Faísca e Gota nunca se conheceriam não fosse por um incidente. Garota sujeita a explosões literalmente incendiárias causadas por clientes irritantes, Faísca acaba danificando os encanamentos do porão da loja familiar, causando um alagamento por onde é sugado Gota, um inspetor municipal. O intruso aquático resolve multar o estabelecimento, o que levará ao seu fechamento. Faísca decide lutar contra isso e, sem que o pai nem desconfie do que está ocorrendo, desloca-se por toda a cidade atrás de Gota.
Visualmente, os cenários e as próprias capacidades de cada personagem, Faísca com suas chamas, Gota com sua impressionante flexibilidade, fazem jus ao padrão de qualidade do estúdio, ainda que com poucas cenas impressionantes, caso da transformação das cores dos cristais por Faísca ou de sua expedição subaquática para ver a flor Vivisteria. As limitações do roteiro, afinal, pesam sobre o resultado geral do filme.
A dependência excessiva da trama da obrigação que Faísca sente de atender às expectativas do pai, em detrimento de seguir seus próprios sonhos, como a estimula Gota, acaba sendo estendida demais. Dá a impressão de que diretor e roteiristas não ousaram deixar de seguir uma lista dos habituais clichês deste tipo de história, com uma pitada de comentário aqui e ali sobre diferença social, respeito à tradição e resquícios de preconceitos para poder seguir adiante. Sem contar uma rápida piscada a Romeu e Julieta.
A junção de todos esses ingredientes na receita cria um outro problema: a qual público se destina o filme? Parece complexo demais para crianças pequenas, infantil para adolescentes e ainda mais para adultos. E, em se tratando de uma história focada nos quatro elementos, falta uma situação que seja que se refira à questão ambiental, ignorada aqui.
As dificuldades da produção mostram o quanto é difícil repetir um sucesso como “Divertida Mente” (2016), aquele sim um primor de roteiro e técnica. Aqui, faltou um pouco mais de imaginação no roteiro, embora seja evidentemente um filme agradável.
ELEMENTOS (Elemental) EUA, 2023. Gênero: Comédia, Animação. Classificação: Livre. Direção: Peter Sohn. Cine A, em São Sebastião do Paraíso, 19h. Cine Roxy, em Passos, 16h30.