16 de maio de 2024
Cantora e compositora albanesa, Dua Lipa retornou com seu aguardado novo álbum / Foto: Divulgação
PEDRO ANTUNES
Se é difícil para nós, mortais, retornar à rotina do escritório após férias passadas em alguma praia em Iguape ou Itanhaém, imagine para Dua Lipa, que viveu as férias dos sonhos em mares de águas cristalinas, piscinas com bordas infinitas, acompanhadas por drinques bonitos e iguarias culinárias do mundo todo.
E aí reside o problema com Radical Optimism, o tal otimismo radical de Dua Lipa, o terceiro álbum de carreira, e também o mais desconectado com o mundo ao redor – e com o próprio tamanho da artista em si.
Dua Lipa, a cantora albano-inglesa, está no céu da música. Despontada como uma alternativa ao pop-dentro-da-caixinha vigente na década passada, ela se agigantou na pandemia, justamente quando lançou Future Nostalgia, o segundo trabalho de estúdio, vencedor do Grammy de melhor álbum de pop vocal, em 2021.
Com aquele disco, em meio à clausura do mundo, Dua fez da sala de estar de cada um uma pista de dança. Don’t Start Now, Break My Heart e Levitation foram alguns dos hits de bilhões de plays em plataformas de streaming.
Findado o isolamento social, Dua embarcou em uma turnê sem fim, daquelas nas quais pipocam boatos de que a própria artista estava exausta.
O salto na popularidade da inglesa foi tamanho que, em 2017, ela encheu uma Audio, casa na zona oeste com capacidade para pouco mais de 2 mil pessoas, em São Paulo, e, cinco anos depois, levou mais de 40 mil à Arena Anhembi, na zona norte da cidade. Também foi alçada ao posto de headliner (atração principal) do Rock in Rio, com as aclamadas 100 mil pessoas por noite de festival, se colocando ao lado dos gigantes da música.
Em Future Nostalgia, o setlist ficou robusto, com pitadas de disco music, e elementos dos anos 1980 e até um pouco da década anterior. Dua também adicionou novos passos de dança às performances, roupas coloridas, mais bailarinos, refrões contagiantes, deixou a voz soar mais livre, sem medo de ser feliz.
Radical, pero no mucho
No terceiro disco, o visual de cabelo avermelhado talvez seja o maior radicalismo de Dua Lipa, que deixou o silêncio das férias com Dance the Night, mais um petardo pop-delícia com instrumental que parece ter sido feito pela banda Chic, nos anos 1970, e está na trilha do filme Barbie, de 2023.
A Dua radical ainda prometera um álbum para celebrar a música dos anos 1990, com referências a Massive Attack e Primal Scream, às raves britânicas, psicodelia e ao britpop. Além do desejo de trabalhar com Kevin Parker, o geniosinho australiano que criou o Tame Impala, uma das bandas mais importantes do rock 2010.
Como ela havia revisitado o groove oitentista da disco music e criado uma obra excelente anos atrás, a expectativa realmente estava alta. É frustrante buscar as tais referências, ainda que você talvez encontre algo em Training Session, a definitivamente melhor faixa do álbum. A inspiração está mais no âmbito espiritual do que explícita.
Conceitualmente, portanto, Radical Optimism é um acerto, tem uma narrativa coesa, mas perde-se justamente na falta de ideias. Soa como um álbum de uma nota só, com poucos momentos de euforia – e, pior, com uma queda na energia brutal na sequência de Falling Forever, Anything For Love e Maria.
Radical Optimism poderia ser brilhante, mas foi um burocrático retorno à firma