Caça aos culpados

O governador do RS declarou em entrevista que, ante o caos provocado pelas chuvas, não era hora de procurarem-se culpados pela tragédia. De fato, tem razão, mas hão de ser buscados os responsáveis. Utilizando-se da distinção que faz o Direito civil entre culpa e responsabilidade (v.g., mesmo sem culpa, o pai responde pelos danos causados pelo filho incapaz), temos culpados e responsáveis pelos trágicos eventos. Os responsáveis são os administradores das cidades e do estado, pela ausência de medidas eficazes de prevenção de alagamentos e de suporte para enfrentamento deles. Os culpados somos todos nós, que deixamos desperdiçar alimentos e descartamos o lixo de forma inadequada. Somos nós que consumimos de tudo, sem quaisquer limites,  exaurindo os recursos da Terra, que logo se mostrarão parcos. Todos nós, por ação ou omissão, destruímos ou deixamos destruir florestas, para uso desenfreado da terra, em benefício de poucos privilegiados. Somos nós que desprezamos o princípio da precaução, tão caro ao Direito ambiental, de onde se extrai seu princípio-mor, que determina, em havendo dúvida, que temos de resolvê-la em favor da natureza e não ao contrário. O desalentador é a certeza de que nada mudará.

Raul Moreira Pinto – Passos/MG

Mãe natureza

A pior arrogância da humanidade foi inventar que somos criaturas de Deus. Inventamos Deus para ser nosso pai criador e assim nos tornar criaturas divinas. Nos afastamos da natureza, nossa verdadeira mãe, para nos diferenciar dos outros animais, não conscientes de sua existência como nós. Esta ideia de Deus criador de tudo, para nosso deleite, nos conduziu à errônea ideia de que dispomos da natureza a nosso bel-prazer. Erro fatal que nos levará a autodestruição, como está acontecendo agora. Ainda há tempo para corrigirmos nossa estúpida pretensão e voltarmos a respeitar nossa mãe natural, ou morreremos abraçados às nossas vãs esperanças de sermos divinos e de vida eterna.

Paulo Sergio Arisi – Porto Alegre/RS