12 de junho de 2025
Foto: Reprodução
Uma Epidemia Entre Animais
Em um certo ano, uma terrível peste entre animais, o Leão, mais apreensivo, consultou um macaco velho de barba branca. Está peste é um castigo do céu – respondeu o macaco – e o remédio é aplacarmos a cólera divina sacrificando aos deuses um de nós. Qual? – perguntou o Leão. O mais carregado de crimes – disse o macaco.
O Leão fechou os olhos, concentrou-se e, depois de uma pausa, disse aos súditos reunidos em redor – Amigos, é fora de dúvida que quém deve sacrificar sou eu. Cometi grandes crimes, matei centenas de veados, devorei inúmeras ovelhas e até vários pastores. Ofereço- me, pois para o sacrifício necessário ao bem comum.
A Raposa adiantou e disse – Acho conveniente ouvir as confissões das outras feras. Porque, para mim, nada do que Vossa Majestade alegou constitui crime, são coisas que até honram o nosso Virtuosíssimo Rei Leão.
Grandes aplausos abafaram as últimas da bajuladora e o Leão foi posto de lado como impróprio para o sacrifício.
Apresentou-se em seguida o Tigre, e repete-se a mesma cena. Acusa-se de mil crimes, mas a Raposa mostra que também ele era um anjo de inocência. E o mesmo aconteceu com todas as outras feras.
Neste momento, chega a vez do infeliz do burro. Adianta-se o pobre animal e diz – A minha consciência só me acusa de haver comido uma folha de couve da horta do senhor Vigário.
Os animais esconjuraram-se que era muito grave aquilo. A Raposa tomou a palavra – Eis meus amigos, o grande criminoso neste momento tão horrível é o burro, que ele nos conta, que inútil prosseguirmos nas investigações. A vitima a ser sacrificar-se aos deus não pode haver outro crime maior do que furtar a sacratíssima folha de couve do senhor Vigário.
Toda a bicharada concordou e o triste burro foi unanimamente eleito para o sacrifício para bem de todos os outros animais ferozes.
A moral da história: aos poderosos, tudo não tem culpa… Mas aos miseráveis, nada tem seu perdão.
Um texto do senhor Monteiro Lobato.
Aristeu Inácio Pinheiro – Passos/MG