Ainda estou aqui…

A leitura do livro de Marcelo Rubens Paiva me lembrou muita coisa que vivi na época da ditadura… Não concordo com ele quando ele diz que os métodos de tortura praticados no Brasil são inspirados do que era praticado nos Estados Unidas e na Inglaterra. Por ter ficado 2 anos como militar francês na Argélia, posso afirmar que foi a França que ensinou o Brasil a torturar, usando eletricidade, água… e depois foi a França que gritou mais contra. Sem querer me tornei envolvido no que estava acontecendo…

No início de 1967, poucos meses após minha chegada em Passos, com 2 franceses do CAPP e um francês que morava no Rio de Janeiro e estava de férias no CAPP fomos conhecer Brasília. Já em Brasília os irmãos do CAPP me disseram que queriam conversar com o Arcebispo de Brasília (Dom José Newton de Almeida, irmão do Bispo de Guaxupé, responsável pelos capelães militares de todo o Brasil, e os militares faziam questão que a Igreja Católica os apoiasse). Um dia, após o almoço, fomos à casa do Arcebispo, o Secretário nos recebeu e nos disse que não seria possível falar com ele essa tarde pois o Arcebispo estava repousando um pouco e depois ia numa cerimônia, ia ser promulgadas a nova Constituição do Brasil (anterior ao AI 5, acho).  Os irmãos do CAPP quiseram esperar para ver a que hora, a noite ou a manhã seguinte, poderiam conversar com ele. Pouco depois aparece o Arcebispo, prontinho para ir à Cerimônia… Quando os irmãos do CAPP pediram uma audiência, Ele ficou calado e disse: – Se eu não for a essa cerimônia, minha ausência vai ser notada, e muito… e é bom que ela seja…”.   Nos mandou entrar e assentar, e desabafou uma meia hora sobre o que não gostava na nova Constituição. Depois falou do assento que interessava os irmãos do CAPP, da obra que nunca foi construído.                 Se o DOPS tivesse descoberto que por causa de 4 franceses,  o responsável pelos Capelães Militares  não foi na cerimônia, iam pensar que os quatro franceses eram altamente subversivos, iam  leva-los para sala de tortura e lá iam morrer… Muitos nessa época foram torturados e faleceram por menos!

                        Pierre Bedouch (Cidadão Passense desde 10-04-2025) -Passos/MG