16 de dezembro de 2024
Foto: Reprodução
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho
O dinheiro é, antes de tudo, uma consequência do esforço, do trabalho e das escolhas que fazemos na vida. Ele deve ser valorizado, mas jamais idolatrado. Em tese, é o que aprendemos ao longo da vida. A sua suficiência está no equilíbrio: ter o suficiente para viver com dignidade, realizar sonhos e ajudar quem precisa, sem se perder no excesso ou na falta.
Dinheiro de menos traz angústia, aflição, limitações e desafios constantes. Ao passo que dinheiro em excesso pode trazer preocupações, vaidade e até desumanização. Entendendo o desumanizar como ato de tratar pessoas como se fossem inferiores ou desprovidas de qualidades humanas, como empatia, dignidade, sentimentos e direitos. A velha narrativa de abrir espaço para preconceitos, discriminações, abusos e até violências extremas, como genocídios e escravidão. Ambos os extremos nos afastam da essência da vida: a simplicidade, a gratidão e as relações humanas.
Melhor a fazer é tratar o dinheiro como um meio, não como um fim. Trabalhar com honestidade, gastar com sabedoria e nunca permitir que ele defina quem somos. A verdadeira riqueza está em viver plenamente, com propósito e equilíbrio.
Após tantas reflexões, chega-se à conclusão de que o dinheiro é uma das contradições mais fascinantes da existência humana. Ao tempo em que pode ser bênção, também pode se transformar em maldição. O apóstolo Paulo escreveu sua Segunda Carta aos Coríntios sobre a importância do dinheiro para socorrer os necessitados. E o curioso é que a Bíblia – livro mais lido e vendido em todo o mundo – trata do dinheiro e da administração financeira em mais de 2.300 versículos. Pois bem, tudo depende de como o enxergamos, o ganhamos e, sobretudo, do lugar que ele ocupa em nossas vidas.
Uma passada de olhos em várias definições, nos deparamos com Francis Bacon falando sobre o dinheiro. Para o filósofo britânico, o dinheiro é um bom criado, mas um mau senhor. Quando o controlamos, ele pode ser uma ferramenta poderosa para construir segurança, realizar sonhos e proporcionar conforto àqueles que amamos. No entanto, quando permitimos que ele nos controle, nos tornamos escravos de sua busca incessante, vivendo em função de algo que jamais trará plenitude por si só.
O lado bom do dinheiro é que, em tempos de crise, ele revela seu papel fundamental: ele nos permite prover o básico, cuidar da saúde, educar os filhos e sonhar com um futuro melhor. Ninguém deseja o sofrimento de não poder oferecer o melhor aos seus – e isso torna o “vil metal” (expressão que designa a busca desenfreada pela fortuna) precioso, mas também carregado de tensão.
Por outro lado, a obsessão pelo acúmulo pode nos distanciar de valores essenciais, como o amor, a solidariedade e a simplicidade. Se ganhar dinheiro com honestidade e usá-lo para criar impactos positivos é bom e salutar, o contrário pode transformá-lo em um peso e uma carga extremamente negativa.
A pergunta para sadias respostas e muita reflexão: “Dinheiro-em-penca” é bom ou não? Aqui, fazendo por lembrar a planta que supostamente atrai prosperidade, abundância e riquezas. Com ou sem o plantio rudimentar, há limites cíclicos e claros para o que o dinheiro pode comprar. Em situações como uma doença incurável, a perda de alguém querido ou crises existenciais, ele se revela neutro e insuficiente. Nessas horas, percebe-se que a felicidade verdadeira não está em bens materiais, mas em aspectos intangíveis: saúde, amor, paz interior, conexões humanas, propósitos de vida.
Dinheiro em pauta: no confronto entre o muito e o pouco – o suficiente. Mesmo porque, no equilíbrio da sorte, como recurso que flui e rola, o dinheiro escapa ou permanece nas mãos conforme sua relação com ele. É essencial compreender e respeitar esse fluxo, sem perder de vista seu propósito e contexto.
Em oportuna relação temática, tratemos do dinheiro como um rio: útil para irrigar sonhos, mas perigoso deixar-se levar por suas correntes e acabar se afogando.
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com).