Yngrid Horrana
PASSOS – Neste sábado, 8, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) completa 75 anos de contribuição para o avanço científico, tecnológico e desenvolvimento educacional e cultural do Brasil. A data também celebra o “Dia Nacional do Cientista e do Pesquisador Científico”, que tem o objetivo de homenagear estudiosos de diversas áreas do saber estabelecidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que incluem humanas, exatas, biológicas, sociais e linguísticas, por exemplo.
Para a cientista social e professora na Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) Flávia Xavier Merlotti Paniz, existe um estereótipo em torno do que é ser cientista. Segundo ela, a imagem construída sobre esses estudiosos descredibiliza a atuação de profissionais que buscam compreender a sociedade por meio de métodos científicos.
“Quando a gente olha para o cientista social, ele não está de jaleco fazendo experimento. É um tipo de pesquisa diferente, o ramo é outro. Essa questão sempre esteve presente na minha trajetória. Assim, as ciências sociais recebem menos investimentos. Apesar de ter uma importância enorme, a gente ainda fica em detrimento de outras ciências em termos de apoio, investimento, compreensão daquilo que é relevante”, comenta Flávia.
De acordo com a pesquisadora, a falta de investimento na pesquisa científica e nos demais ramos da educação é um dos fatores que mais impactam essa desvalorização, que ocasiona evasão de pesquisadores nos espaços acadêmicos. Segundo ela, aqueles que têm condições de permanecerem no ramo, às vezes, recorrem às instituições internacionais – tais pesquisadores são chamados de “fuga de cérebro”.
“Não tendo investimento e tendo uma qualidade de vida difícil por causa das bolsas, fica um tanto quanto inviável também a dedicação integral, o que causa um prejuízo na saúde mental e física. Essas questões são mais difíceis nas ciências humanas”, destacou.
Segundo a professora, após ganhar uma bolsa de estudos na Alemanha foi importante financeiramente para a compra e acesso de materiais. “Me permitiu estudar alemão e ter proficiência, que também foi muito importante na minha carreira. Consegui ter acesso aos outros textos que a gente não tinha (no Brasil), por conta da barreira do idioma”, disse.
Conforme ainda Flávia, durante 15 anos que pesquisas e teorias no ramo pós-coloniais e decoloniais, foco de estudos, tratou de assuntos de gênero, sexualidade, etnicidade e ecologia, que foi possível por meio de assistência estudantil, bolsas do CNPq e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Foi muito importante na minha formação. É muito difícil você se dedicar e conseguir trabalhar ao mesmo tempo. Tem uma exaustão muito grande, pois o trabalho ou a pesquisa pode ficar prejudicado”, ressaltou.
Reajuste de bolsas
Neste ano, o Governo Federal reajustou as bolsas de mestrado, doutorado e de iniciação científica júnior. Os recursos destinados à produção científica estavam embargados há mais de 10 anos. As bolsas sofreram aumento de 25% a 75% e, de acordo com a pesquisadora, foi essencial, mas ressalta que ainda não supre todas as necessidades de um cientista.
“Esse reajuste, que praticamente dobrou as bolsas, foi fundamental. Equalizou com o fato de que a anos não havia aumento da bolsa. Foi uma conquista enorme, mas ainda não é suficiente para cobrir as demandas. Eu espero que tenha um reajuste anual, de acordo com a inflação”, disse.