Dia a dia

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10 de março de 2023

MARIA HELENA FERREIRA

“Era uma vez…”

Vou contar para vocês algo que embora seja muito simples, tem sua relevância. Serei breve prometo.
Era uma vez…” Me perdoem por começar com “era uma vez”, é que realmente, era uma vez. Ela era de corpo franzino, cabelos lisos da cor preta, de comprimento até a cintura, de pouca fala e muito trabalho.
Maria era seu nome, nome simples, mas por de trás daquele nome havia uma fortaleza!
Maria lavava, passava, costurava, cuidava com zelo dos seus muito filhos e ainda sobrava tempo para fazer suas quitandas. E olha que não era só para o consumo do lar, ela também os comercializava.

Se tinha reunião na escola, ela estava, se o marido ia para a cidade fazer as vendas do feijão, ela estava, e se a safra não fosse boa, ela orava a Deus pedindo prosperidade. O que eu não posso deixar de falar é que ela também era cantadora de ladainhas e encantava a todos com sua voz aguda. Enquanto servia as suas quitandas na vendinha em frente sua casa, por sinal foi construída com dinheiro ganho com as vendas das quitandas e também com farinha de mandioca feita pelas mãos de Maria embora fosse analfabeta, era uma ótima economista, e sabia fazer o dinheiro render como ela mesmo dizia.
O tempo ia passando e a dona da vendinha seguia firme com seus afazeres… Quem passava na rua, podia ver as colchas de retalhos feitas com as sobras dos tecidos do qual eram feitas as roupas da família. As donas refinadas da cidade, procuravam Maria para adquirir suas colchas de um colorido que só ela sabia combinar!

Quem via Maria assim, sempre trabalhando, focada em seus afazeres, falando pouco, achavam que aquela mulher fosse amarga.
Nada disso, saibam vocês que elegância era algo que lhe pertencia, com muita sabedoria ela sabia conduzir as coisas em seus propósitos. Sabia realmente agregar valores desde os bons conselhos, como o ato da caridade, que era presente na sua vida.

O que mais chamava atenção em Maria é que mesmo cansada ela achava tempo para cuidar das suas roseiras e eram muitas de várias cores! Todas as tardes lá estava ela com seu regador de cor prateada, cantarolando enquanto regava com muito carinho as suas roseiras. Era lindo de ver aquela alquimia, uma junção de emoções que pairavam em nossa memória! Enquanto regava as rosas podíamos observar as gotas d’água deslizarem pelas flores e caírem na terra que reproduziam um cheiro de fim de tarde, que junto com a cantoria de Maria, parecia um ato de uma ópera.

O que ninguém sabia, e eu posso lhes contar agora, é que para cada rosa Maria dava um nome, Antonia, Margarida, Alice, e por aí a for a…
A cada nuance de cor um tom de pele. E posso também lhes afirmar, que aquela mulher de corpo franzino bailava entre suas rosas Marias e muitas outras de nós, celebrando o néctar que há no feminino.
Linda como uma manhã de sol sabia amamentar a sua continuidade tão formosa, com os braços alcançava o mundo, e toda vizinhança podia contemplar o quanto Maria transbordava amor.

MARIA HELENA FERREIRA, atriz e escritora. Integra a Associação Cultural dos Escritores de Passos e Região, cujos membros se revezam na autoria de textos desta coluna aos sábados