Ícone do site Folhadamanha

Dia a Dia

PATRÍCIA LOPES PEREIRA SANTOS

Só sei que nada sei

Por enquanto, chega de perrengues!
Azar o seu que resolveu acompanhar os meus textos, está condenado a ler futilidades que beiram a bizarrices ou a tropeçar em introspecção.

Hoje é o dia da introspecção.
É que folheando o Texto Sagrado deparei-me com um homem assombrado por seus pensamentos. Foi assim que percebi o Rei Salomão no Livro de Eclesiastes.

Imaginei o rei sábio deitado para descansar em sua cama majestosa, abanado e alimentado por suas inúmeras concubinas e pensando, pensando muito.

E se tem algo que atrapalha qualquer tentativa de descanso é pensar. Alguns pensamentos são tão cansativos e intrusivos que são capazes de nos fatigar mais do que uma maratona olímpica.

Mesmo sendo o Rei Salomão, ele estava inquieto com o mundo ao seu redor. A realidade física parecia lhe causar estranheza e tal qual um homem com comida indigesta no estômago, o rei colocou para fora os seus questionamentos e angústias.
O livro de Eclesiastes é de um realismo irritante, escrito por um homem na velhice que vomita palavras de perplexidade.

Fiquei incomodada com os primeiros capítulos, provavelmente, porque as palavras do rei também já foram minhas. Lembro-me que ainda enlutada e triste com a morte da minha avó materna, mulher que foi um exemplo de temor e obediência a Deus, conclui que no mundo físico, tanto o sábio quanto o tolo irão para o mesmo lugar: a sepultura.

Para o filho do Rei Davi, a vida física – espaço temporal entre o nascer e o morrer- é uma névoa, nada de nada, fugaz, passageira, esvai-se como fumaça e bolhas de sabão. Contou-nos que nenhum poder experimentado por ele debaixo do sol como as riquezas, os prazeres, o governo e o conhecimento foram suficientes para satisfazer os desejos do seu coração.

Pulei alguns capítulos e até procurei outros livros para espairecer, mas encontrei-me com o mesmo autor em outra fase de vida.
No livro “Cantares de Salomão”, o rei está leve e feliz, totalmente impactado pelas ilusões da juventude, fala do amor e da natureza: ”Confortai-me com flores, fortalecei-me com frutos, porque desfaleço de amor”. Flores e amor, há momentos em que são tudo de que precisamos.

Despedi-me do rei jovem para me encontrar com o monarca adulto e seus provérbios, com ele aprendi conselhos práticos sobre a maneira de se viver, direcionamentos importantes para aqueles que estão na pista e avida está acontecendo.
Sinto que de cada encontro ficou um pouco, não quero as ilusões cegas da juventude e tampouco a dureza do realismo da maturidade.

O que desejo com toda intensidade são os conselhos simples de rei adulto, em especial aquele que me alerta a não buscar alicerces apenas no meu próprio entendimento, afinal existem coisas que a minha mente limitada sempre será incapaz de compreender.

PATRÍCIA LOPES PEREIRA SANTOS, graduada em odontologia (PUCMG) e direito (Fadipa), mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional (Unifacef- Franca) e Especialista em Direito Público (Faculdade Newton de Paiva), é servidora pública do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. E-mail: acitripa70@ gmail.com

Sair da versão mobile