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Dia a Dia

DÉCIO MARTINS CANÇADO

Fazer diferença

O que é “fazer diferença” na vida? É dizer a que se veio. A pior coisa do mundo é passar pela vida, e não viver. Tem gente que mais parece um tubo: passa a vida sem fazer nada mais importante do que comer, andar, respirar… O tempo passa, as oportunidades passam, a comida entra e sai, a energia também. Viver de verdade é participar da ‘Criação’, que acontece a cada milésimo de segundo. É contribuir com alguma coisa, para que algo seja diferente, melhor e inovador.

Para ‘fazer diferença’ no mundo, não precisamos ser um líder político, gênio da ciência ou superstar da música, do cinema ou televisão. Cada um, no seu campo, tem o seu modo de criar, gerar realidade, atuar positivamente na vida. Não é copiar o jeito do outro, fazer como os outros fazem ou como querem que você faça. Para atuar com força total, é preciso descobrir o seu próprio jeito, o seu talento, acreditar e gostar, realmente, do que faz.

É bem possível que você seja assim, ou que tenha encontrado pela vida alguém parecido, mas é sempre importante estarmos atentos para o que acontece à nossa volta, aprendendo com os exemplos que a vida, às vezes sem querer, nos dá. Vejamos a estória a seguir:

“No primeiro dia de aula na faculdade, nosso professor se apresentou e pediu que nos apresentássemos a alguém. Eu fiquei em pé, olhando ao redor, quando uma mão suave tocou meu ombro. Olhei para trás e vi uma pequena senhora, com um sorriso que iluminava todo o seu ser. Ela disse: – “Olá, bonitão! Meu nome é Rosa. Eu tenho sessenta e dois anos. Posso te dar um abraço”? Eu ri, e respondi: – É claro que pode! E ela me deu um gigantesco apertão. Em tom de gozação, perguntei:

– Por que você está na faculdade, tão jovem? Ela respondeu brincalhona: – “Estou aqui para encontrar um marido rico, casar, ter um casal de filhos, e então, aposentar-me e viajar”. – Está brincando!! Eu disse. Na realidade estava era muito ansioso em saber o que a havia motivado a entrar nesse desafio, com a sua idade, e ela respondeu: – “Eu sempre sonhei em ter um diploma universitário, e agora estou tendo esta oportunidade”!

Após a aula, caminhamos para a cantina, e dividimos um “milk shake” de chocolate. Tornamo-nos amigos. Todos os dias, nos próximos meses, teríamos aulas juntos e falaríamos sem parar. Ficava sempre extasiado, ouvindo aquela “máquina do tempo” compartilhar sua experiência e sabedoria comigo. Rosa tornou-se um ícone no Campus, pois fazia amigos com muita facilidade. Ela amava vestir-se bem, e revelava-se na atenção que lhe davam os outros estudantes. Estava curtindo a vida!

No fim do semestre, nós a convidamos para falar em nosso jantar de encerramento do campeonato de futebol. Jamais me esquecerei do que nos ensinou… Ela foi apresentada pelo mestre de cerimônias e aproximou-se do microfone. Quando começou a ler o seu discurso, deixou cair, creio que de propósito, algumas folhas. Aparentando estar frustrada e um pouco embaraçada, começou a falar:

– “Desculpem-me, eu estou nervosa! Parei de beber por causa da Quaresma… aquele uísque estava me matando! Acho que nunca conseguirei colocar meus papéis em ordem de novo, então, deixem-me falar para vocês sobre aquilo que sei.” Enquanto nós ríamos, ela limpou a garganta, e começou: – “Nós não paramos de amar porque ficamos idosos; tornamo-nos velhos porque paramos de amar.

Existem quatro segredos para continuarmos jovens, felizes e conseguindo sucesso naquilo que fazemos. Precisamos rir, e encontrar o bom humor em cada dia. Precisamos ter um sonho. Quando você perde seus sonhos, você morre. Existem muitas pessoas caminhando por aí, que estão mortas, e nem desconfiam! Há uma enorme diferença entre ficar idoso e crescer. Se você tem dezenove anos, e ficar um ano sem fazer nada de produtivo, ficará, naturalmente, com vinte anos. Se eu tenho sessenta e dois anos, e ficar na cama por um ano, ficarei com sessenta e três, é óbvio.

Qualquer um consegue ficar mais velho. Isso não exige talento nem habilidade. A ideia é encontrar ‘oportunidades’ na novidade. É crescer como pessoa, encontrando sempre as chances de mudar. Não tenha remorsos. Os velhos, geralmente, não se arrependem daquilo que fizeram, mas sim, do que ‘deixaram de fazer’. As únicas pessoas que têm medo da morte são aquelas que têm remorsos”.

Concluiu seu discurso cantando, corajosamente, “A Rosa”, de Pixinguinha, e desafiou a cada um de nós a estudar poesia, e vivê-la em nossa vida diária.
Finalmente, chegou o dia em que Rosa e eu terminamos a faculdade. Já havia se passado os anos e eu nem percebera, tal era a intensidade de nossa amizade e o nível de nossa convivência.

Algum tempo depois, Rosa morreu tranquilamente, em seu sono. Mais de mil alunos da faculdade foram ao seu funeral, em tributo à maravilhosa mulher que ensinou, através de seu exemplo, que nunca é tarde demais para sermos tudo aquilo que podemos, e devemos, provavelmente, ser”.

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