DÉCIO MARTINS CANÇADO
Educação e amizade
O tempo e a vida passam, as gerações se sucedem, os hábitos e costumes se modificam, a tecnologia evolui numa velocidade impensável e nós, que trabalhamos com o pensamento, a convivência e com o aprendizado, ficamos numa posição curiosa e interessante, pois, somos autores, espectadores e, em diversas ocasiões, meros participantes desse processo tão intenso, ágil, bonito, instigante e desafiador.
Encontrei conforto no mestre Rubem Alves, que aliviou meu sono ao escrever: “Cheguei onde estou por caminhos que não planejei. É um lugar feliz com o qual nunca sonhei. Nunca me passou pela ideia que eu viria a ser escritor… não sou muito bom em Português, erro a acentuação, a pontuação.
Sou um mau aluno, especialmente quando o professor quer ensinar-me coisas que eu não quero aprender”. Rubem nunca entendeu a razão de alguém sempre insistir em comentar os seus erros e nunca falar sobre o conteúdo dos seus textos. Na verdade, segundo ele, o maior papel da educação, especialmente em casa, é ‘tocar na alma’, é ensinar a ser gente, a ser feliz, a ter valores.
De Fernando Pessoa, lembro-me do texto sobre os amigos: “Um dia, os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão: Quem são essas pessoas? Diremos… que eram nossos amigos e… isso vai doer tanto! Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons momentos da minha vida!
A saudade vai apertar dentro do peito. Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente… mas já não será mais possível! Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades… Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!”
No meio de um trabalho, lembro-me de um amigo e penso: “Preciso ligar para ele”, mas, em seguida, volto ao que estava fazendo.
Comento com alguém sobre aquela viagem que desejo fazer… Um dia, talvez… Ano após ano, desejamos começar algo novo, concretizar antigos sonhos, entretanto, fica só no desejo. E assim a vida vai passando… e estamos sempre envolvidos com os problemas cotidianos, conformados com a falta de tempo, os esquecimentos e as dificuldades…
E vamos nos enganando, esperando a hora certa, a ocasião oportuna… Que nunca aparecem.
O tempo passa e transforma as pessoas, as coisas, os lugares. E, de repente, perdemos o contato com aquele amigo; a viagem adiada torna-se inviável; o sonho, que brilhava em nossos olhos, perde o encanto. Aí vem o arrependimento de não termos feito algo que daria novos rumos às nossas vidas; lamentamos, porque o tempo não volta… Fica a sensação de um gosto amargo na boca.
Mas não precisa ser assim… E não deve ser assim. Todos nós podemos ser agentes da nossa história. Podemos escrevê-la com frases de amor, desenhá-la com cores alegres e vibrantes…
E é por isso que não devemos deixar passar, em meio à correria do dia a dia, as oportunidades de fazer as coisas essenciais para o nosso bem-estar. Vamos proporcionar a nós mesmos os momentos preciosos que lembraremos para sempre. Curtir junto de quem a gente ama, de nossos amigos, todas as emoções da vida, antes que seja tarde.
Quando percebemos, a vida passou muito rápido; mas, em meio à luta diária, podemos criar momentos preciosos, que durem segundos, mas se eternizam em nossas lembranças. Momentos de ‘pequenos gestos’ com grandes significados. Que fazem o mundo parar de girar e tudo o mais deixar de existir.
Pense no que é ‘essencial’ para você, na vida que deseja viver… Agora, e não em um futuro incerto, distante. Transforme cada dia em uma ocasião especial. De vez em quando, faça da quarta-feira um domingo… Ande por caminhos onde nunca esteve. Vá em busca de algo que possa surpreendê-lo e maravilhá-lo. Faça alguém feliz.
Nos dias em que tudo der certo, lembre-se de agradecer. E naqueles em que parece dar errado, supere os obstáculos e faça os ajustes necessários… Mas não desista de ser feliz. Pare de reclamar dos outros, da saúde, do tempo… Não guarde mágoa de ninguém no coração. Não fuja, não se omita… Não tenha motivos para se arrepender.
E como última reflexão: “Ontem, eu era inteligente, queria mudar o mundo. Hoje, sou sábio, estou mudando a mim mesmo”.