16 de maio de 2023
DÉCIO MARTINS CANÇADO
A conhecida expressão: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”, da obra “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry tem sido muito utilizada, mas, nem sempre, bem entendida no dia a dia das pessoas e nas mais diversas situações em que precisaria ser refletida.
Muitas vezes, as coisas acontecem “bem debaixo do nosso nariz”, como diz o dito popular, e não nos apercebemos a tempo, para tomarmos uma atitude mais acertada, ou com sabedoria. Também outra expressão, muito conhecida e aplicada em determinadas ocasiões é: “O pior cego é aquele que não quer ver”, referindo-se à nossa falta de perspicácia e bom senso, quando nos deixamos envolver e enganar por outras pessoas.
Vejamos uma pequena história que, de uma forma jocosa, mostra-nos algo parecido.
“Uma velhinha andava sempre de moto. Quase todos os dias, passava pela fronteira entre dois países, montada na motocicleta, com um saco enorme na garupa. O pessoal da alfândega começou a desconfiar da velhinha. Um dia, quando ela vinha na moto, o fiscal mandou-a parar e perguntou-lhe, muito curioso: – “Minha senhora, sempre a vejo passar por aqui, com esse saco aí na garupa. O que é que tem dentro dele”?
A velhinha sorriu, com os poucos dentes que lhe restavam, e respondeu, amigavelmente:
– “Areia”! Aí, quem sorriu, foi o fiscal! Muito desconfiado, achando que não era areia nenhuma e que ela estava querendo enganá-lo, mandou que descesse da moto para examinar o conteúdo do saco. Ela saltou, o fiscal examinou com muito cuidado o que havia no saco e, de fato, só tinha areia ali. Muito encabulado, liberou-a. Ela foi embora, toda sorridente, com a mercadoria na garupa da moto.
O fiscal continuou encabulado, sem se convencer totalmente. Algo estava muito estranho naquela história. Talvez a velhinha passasse um dia com areia, e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na moto, carregando o saco, o fiscal mandou parar outra vez e perguntou o que carregava, ao que ela respondeu prontamente: – “Areia, uai!” O oficial examinou novamente e era areia mesmo.
Durante um mês, ininterruptamente, o fiscal interceptou aquela senhora e, todas as vezes, o que ela levava era areia. Ele não se deu por vencido. Alguma coisa não estava muito certa. Então ele disse: – “Olhe, vovó, eu sou fiscal da alfândega há mais de 30 anos. Manjo essa coisa de contrabando como ninguém. Não me sai da cabeça que a senhora é contrabandista”. – “Mas no saco só tem areia!
O senhor mesmo já conferiu”! – insistiu a velhinha, que já ia tocar a moto, quando o fiscal propôs: – “Eu prometo à senhora que a deixarei passar, e não vou importuná-la novamente. Não vou dar parte, não apreendo a mercadoria, não conto nada para ninguém, mas, por favor, conte-me a verdade: qual é o contrabando que a senhora está passando aqui, quase todos os dias”?
– “O senhor promete que não ‘espáia’? Dá sua palavra de honra? Jura, em nome da felicidade de seus filhos”? – quis saber a velhinha. – “Juro! Pois já não estou mais suportando esta curiosidade. Pode confiar, e me contar”. E ela falou bem baixinho: – “É a moto”!!!!
Outra história, que também ilustra o tema de hoje, fala a respeito de um conferencista que iniciou sua palestra, ante o auditório superlotado, carregando um pequeno embrulho. Após cumprimentar os presentes, enfeitou uma mesa, forrada com uma toalha branca de seda, com dezenas de pérolas e com várias flores frescas e perfumadas.
Em seguida, tirou diversos enfeites e os distribuiu sobre a mesa. Logo depois, em meio aos objetos, colocou sobre a mesa uma lagartixa, que estava num frasco de vidro, perguntando ao público: – “O que estão vendo aqui”? E algumas vozes responderam: – “Um bicho”! – “Um lagarto horrível”. –“Um animal repugnante”.
O conferencista, então, considerou: – “Assim é o espírito da crítica! Vocês não deram importância ao forro de seda, não destacaram as flores, não perceberam as pérolas, nem os lindos enfeites, mas não passou despercebida a pequena lagartixa… Pediram-me para falar sobre a crítica, portanto, nada mais tenho a dizer.
Quantas vezes não nos temos feito cegos para as coisas valorosas da vida e das pessoas? Assim acontece em muitas situações: em vez de focarmos nas flores e nas pérolas, colocamos nossa atenção na ‘lagartixa’. Tente substituir a crítica pelo elogio e reconhecimento, pelo que é positivo. Você vai perceber que isso tornará a vida de todos e, principalmente, a sua, muito melhor”!