24 de abril de 2023
LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO
“Antes tarde do que nunca.” Este provérbio repercutiu na bandeira da Inconfidência Mineira, de Tiradentes: Liberdade, ainda que tardia. O provérbio é parente de outro dito popular brasileiro: Deus tarda, mas não falha. Não quero elogiar os que esperam por vingança e repetem o provérbio quando, finalmente, acontece uma desgraça ao ofensor.
Elogio os que esperam pacientemente que as coisas desejadas e boas aconteçam: um primeiro filho aos 45 anos, um diploma universitário aos 60, uma loteria depois de 500 apostas. Tem o bom cheiro deste provérbio a frase de Santo Agostinho nas Confissões: “Tarde te amei, Senhor!”, porque só encontrou Deus na idade adulta. Lembremos, porém, que o que é tarde para nós não o é para Deus. – Frei Clarêncio Neotti, OFM – folhinha do dia 20 de abril de 2023 – do calendário “Sagrado Coração de Jesus”, da Editora Vozes Ltda. cneotti@yahoo.com.br
Provérbio muito popular mesmo, ele é usado, muitas vezes, de forma correta e honesta, mas também, em outras situações, de forma banal, como desculpa para justificar ou encobrir situações embaraçosas. De forma correta, quando o bom senso pede que se espere para que seja tomada alguma atitude mais inteligente.
Que não haja precipitação que poderá ter consequências desagradáveis ou danosas. Um exemplo: a punição de alguém apenas por evidências de que a pessoa agiu mal, não cumpriu com sua obrigação. É preciso que se apure a realidade, a verdade, os motivos que levaram a pessoa a não cumprir com sua tarefa. Portanto, deixar que as coisas se expliquem é o melhor caminho.
Não é se precipitando, apenas por conta de evidências, sem que haja realmente provas reais. Pode-se cometer injustiças. Portanto, protelar uma decisão, seria o caso de, antes tarde do que nunca. Punir, realmente, depois, mais tarde, do que deixar de punir, caso seja necessária a punição.
Ou seja, uma atitude deverá ser tomada, mesmo que tenha de se esperar um pouco, antes tarde, depois, do que nunca tomar atitude alguma. De forma banal, maliciosa, perniciosa, quando se tenta desculpas esfarrapadas para justificar a não tomada de atitude para encobrir o mal feito.
Um exemplo: a pessoa agiu mal, foi desonesta, mas tenta encobrir o mal feito, apresentando desculpas que nada justificam sua atitude. Os responsáveis que deveriam tomar uma atitude, fecham os olhos, passam a mão na cabeça, deixam correr e tudo fica como está. Tomaram uma atitude, nada honesta, para justificar que agiram antes tarde do que nunca. Analisaram e não viram nada que justificasse uma atitude justa. Só que o “do que nunca” não justificou nada.
A Inconfidência Mineira usou, com outras palavras, o mesmo provérbio: “Liberdade, antes que tardia.” Já conhecemos a história, deu no que deu. Foram punidos os membros do movimento e Tiradentes foi “imolado”, condenado como traidor. Outro dito conhecido: “Deus tarda, mas não falha.”
Como diz o frei, nada a elogiar quem, por acaso, pensa em vingança. Aliás, há situações ou casos, em que alguém clama por justiça, quando, na realidade está esperando por vingança. Algo complicado de se entender, não é mesmo? Quem será o melhor aplicador da justiça, Deus, para quem Nele acredita, ou os homens, encarregados de aplicar a justiça? É muito tênue a interpretação entre vingança e justiça, assim eu penso.
Portanto, quando a pessoa espera por Deus para solucionar boas intenções, bons propósitos como os citados pelo frei no seu resumo, valerá a fé que ela deposita em Deus. É preciso, no entanto, entender que não poderá haver propósitos egoístas, mas que haja mais pessoas podendo desfrutar daquilo que se deseja.
Um filho desejado, mesmo na idade mais avançada, deverá ser a alegria do lar, da família e não apenas a alegria ou felicidade da mãe. Um diploma universitário, além de engrandecer o diplomado, deverá ter utilidade para a família e a coletividade. Ganhar numa loteria, mesmo depois de tantas apostas, deverá favorecer não apenas o ganhador, mas sua família e quem dele depender. Se for muito dinheiro, poderá até ajudar um pouco, com inteligência, as entidades beneficentes.
Santo Agostinho, convertido já na idade adulta, falou o mesmo ditado: “Tarde te amei, Senhor.” Assim, explica o frei: o que é tarde para nós, não o é para Deus!
LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO, professor de oratória e de técnica vocal para fala e canto em Carmo do Rio Claro/MG, ex-professor do ensino comercial com reg. no MEC, formado no curso normal superior pela Unipac. E-mail: luizguilhermewintherdecastro@hotmail.com