DÉCIO MARTINS CANÇADO
Quatro Histórias
Como é bom conviver com as pessoas. Como é bom aprender, trocar informações, dividir experiências… Respeitar a diversidade de pensar, de ser e de agir dos outros.
Dizer que é fácil seria faltar com a verdade, sabemos todos, mas é preciso persistir. “Resultados exigem esforço, paciência e constância. O que importa são as tentativas, nem tanto os acertos.”
Algumas lições nos são passadas em forma de fábulas, parábolas ou de ‘contos’, alguns de origem e autoria desconhecidas, mas, se refletidas devidamente, auxiliam-nos bastante em nossas vidas, nas tomadas de decisão e na compreensão de nossos semelhantes.
Conta-se que, “em tempos antigos, um rei colocou uma pedra enorme no meio de uma estrada. Então, ele se escondeu e ficou observando para ver se alguém a tiraria do caminho.
Alguns mercadores e homens muito ricos do reino passaram por ali e, simplesmente, deram a volta pela pedra. Alguns, até esbravejavam contra o rei, dizendo que ele não mantinha as estradas limpas, mas nenhum deles tentou mover a pedra.
De repente, passa um camponês carregando uma boa carga de vegetais. Ao se aproximar da grande rocha, ele pôs de lado a sua carga e tentou remover a pedra dali.
Após muita força e suor, ele finalmente conseguiu move-la para o lado da estrada. Voltou, então, a pegar a sua carga de vegetais, mas notou que havia uma bolsa no local onde estava a pedra. A bolsa continha muitas moedas de ouro e uma nota escrita pelo rei, dizendo que o ouro era para a pessoa que tivesse removido a pedra do caminho. A nota também dizia: “Todo obstáculo contém uma oportunidade para melhorarmos nossa condição”.
Como podemos perceber, não é tão raro acontecer algo semelhante em nossas vidas. Há uma tendência, quase natural, de nos desviarmos de nossos problemas ou contratempos, colocando a culpa nos outros, ou nas autoridades, sem ao menos procurarmos alguma forma de solucioná-los, ou pelo menos, de indicarmos soluções para que alguém possa tomar as providências.
A segunda lição que nos é passada vem do texto a seguir que, dizem, é um fato verídico: “Há muitos anos, quando eu trabalhava como voluntário em um hospital, vim a conhecer uma menininha com 3 anos de idade, chamada Liz, que sofria de uma terrível e rara doença. A única chance de recuperação para ela seria através de uma transfusão de sangue do seu irmão mais velho, de apenas 6 anos que, milagrosamente, apresentava os anticorpos necessários para combater a tal doença.
O médico explicou toda a situação para o menino e perguntou, então, se ele aceitava doar o sangue dele para a irmã.
Eu vi o menino hesitar um pouco, mas depois de uma profunda respiração ele disse: “Tá certo, eu topo já que é para salvá-la…” Ele ficou deitado na cama ao lado da cama da irmã, e, à medida que a transfusão foi progredindo, sorria feliz ao ver as bochechas dela voltarem a ter cor.
De repente, o sorriso dele desapareceu e ele empalideceu. Ele olhou para o médico e perguntou com voz trêmula: “Eu vou começar a morrer logo, logo?” Por ser tão pequeno, o menino tinha interpretado mal as palavras do médico e havia pensado que teria que doar todo o sangue dele para salvar a irmã!
Pois é…, respeito, generosidade, compreensão e boa vontade são fundamentais.
A terceira vem com o título ‘Mensagem oportuna’, e conta que, “Há alguns anos, na Olimpíada de ‘Seatle’, nove participantes, todos com deficiência mental ou física, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos. Ao sinal, todos partiram com vontade de dar o melhor de si, terminar a corrida e ganhar. Todos, com exceção de um garoto que tropeçou no asfalto, caiu rolando e começou a chorar. Os outros oito ouviram o choro. Diminuíram o passo e olharam para trás.
Então eles voltaram. Todos eles. Uma das meninas, com Síndrome de Down, ajoelhou, deu um beijo no garoto e disse: “Pronto, agora vai sarar”. E todos os nove deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada. O estádio inteiro levantou e os aplausos duraram muitos minutos. As pessoas que estavam ali, naquele dia, contam essa história até hoje. Por quê? Porque, lá no fundo, nós sabemos que o que importa nesta vida é mais do que ganhar sozinho. O que importa é ajudar os outros a vencerem, mesmo que isso signifique diminuir o passo e mudar de curso.”
A quarta conta que um antropólogo, realizando um estudo na África, colocou um cesto cheio de doces debaixo de uma árvore e propôs às crianças da tribo que, de um ponto de partida, corressem em direção à cesta… Quem chegasse primeiro ficaria com tudo para si. Após o sinal, elas se deram as mãos e correram juntas, pegaram o cesto e comemoram, compartilhando as guloseimas, para surpresa do estudioso, que perguntou o motivo daquele gesto, ao que uma respondeu: “Ubuntu”, e explicou: –
“Como uma de nós poderia ficar feliz, se todas as outras ficariam tristes?” Isso representa uma filosofia e uma ética africana que diz: “Sou quem sou, porque somos todos nós”. Uma pessoa com ‘Ubuntu’ tem consciência de que ela é afetada quando um semelhante seu é afetado. Ela sabe que o mundo não é uma ilha, que precisa dos outros para ser ela mesma. Fala de respeito básico pelos outros, de compaixão, partilha, empatia…
Mais uma vez cabe aqui a máxima – “Vivendo e aprendendo”. Aprendendo a ser, e conviver. A superar os desafios da vida, a ser “mais gente”.