Dia a dia

Dia a Dia

14 de abril de 2023

PATRÍCIA LOPES PEREIRA SANTOS

Novo Mundo?

O que está acontecendo com o mundo? Foi essa a minha pergunta no último dia cinco.
Para manter a minha saúde psíquica, há alguns meses que não assisto aos noticiários. Mas algumas notícias, por mais que você tente se blindar, elas nos esmagam. Foi o que aconteceu com a do ataque à creche em Blumenau.

Fui acometida de grande tristeza. Em outra ocasião, como cronista deste jornal, escrevi sobre o acidente em Capitólio e lembro-me de refletir sobre a imoralidade da pedra que provocou a tragédia nos cânions.

Uma vez pedra, sempre pedra. Aquela fatalidade aconteceu por um somatório de eventos exteriores a ela. Não acredito que a pedra tenha acordado no dia oito de janeiro de 2021 e dito para si mesma: “É hoje o grande dia!” E com o seu propósito de pedra, escolheu a hora, o minuto, o segundo e a posição certa para a catástrofe em Capitólio. E que se danassem as famílias desfeitas, os sonhos frustrados e a dor do” nunca mais” que vem no pacote da morte.

Já em Blumenau, por mais que eu reflita, não consigo achar explicações para tamanha covardia. A única que cabe no meu juízo de valor é imaginar que o rapaz teve um surto psicótico e por isso atacou crianças indefesas, imaginando que pudessem lhe causar um grande mal.

Ouvi inúmeros palpites. Uns dizem que fazia parte de uma etapa de um jogo virtual. Para outros, teria sido por influência do atentado de 1999 na Escola Columbine (Colorado- EUA), ocasião em que morreram 15 crianças. Naquela tragédia, devido a cobertura exaustiva da mídia, os criminosos ganharam popularidade e conquistaram a admiração de outros jovens atrás de celebridade.

Também já ouvi algumas explicações teológicas, que talvez sejam as mais tormentosas para uma pessoa que não faz cerimônia em ser atrevida diante de Deus.

Sempre fui embirrada com Adão e Eva, fico pensando no porquê da desobediência desse casal. Por causa dela o caos se instalou. É estranho pensar que se o Éden é e sempre foi o mundo sonhado por Deus, por que a humanidade teria chegado no grau de maldade que estamos vivenciando?

C.S. Lewis, um dos meus autores cristãos preferidos, explica o tema utilizando a metáfora de um palco e seus atores. Ele compara a vida com o palco, os seres humanos com os atores e Deus com o diretor da peça teatral.
Na encenação artística, o diretor comanda os seus atores, define falas, espaços, gestos e expressões da trupe. Ele controla a situação, que raramente, a depender do improviso de um ou outro ator sai fora do roteiro.
Já na peça de teatro da vida real, o nosso Diretor é um homem fino e elegante, Ele não determina falas ou gestos, não constrange pessoas, e nos permite fazer escolhas.

Então, Adão e Eva, representando a humanidade, exerceram a sua prerrogativa de liberdade de escolha porque, segundo Lewis, aquela seria a única forma possível do mundo ser mundo, habitado por seres humanos livres e conscientes em suas decisões.
Do contrário, as cortinas se abririam e seríamos lindos fantoches manobrados no palco pelas mãos Dele. Além disso, que graça teria se não fôssemos a Ele por um desejo genuíno do nosso coração?

Na minha arrogância de querer explicar o inexplicável, concluo, neste momento, que da mesma forma que Deus decide respeitar as nossas escolhas, Ele assim age com as consequências delas. E o mesmo homem que é livre para escolher, torna-se prisioneiro de suas decisões.

Algumas escolhas frutificam tristeza em nossas vidas e reverberam na de desconhecidos inocentes, como foi o caso noticiado acima e tantos outros que congestionam os noticiários.
No último dia cinco, parafraseando a música “Canção do Novo Mundo”. em que Beto Guedes fala sobre o assassinato de John Lennon, fiz as mesmas perguntas: “ Oh! Minha estrela amiga (da manhã), por que você não fez a bala (o machado) parar?
Para mim, neste momento, nenhuma resposta, teológica ou não, é o suficiente para a minha cabeça limitada.

PATRÍCIA LOPES PEREIRA SANTOS, graduada em odontologia (PUCMG) e direito (Fadipa), mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional (Unifacef- Franca) e Especialista em Direito Público (Faculdade Newton de Paiva), é servidora pública do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. E-mail: acitripa70@ gmail.com