27 de janeiro de 2024
Calouros por toda a vida
Não saber como começar é algo genuinamente humano, isto porque a vida não tem pauta, então, na maioria das vezes, se começa em linhas tortas.
Todo início geralmente tem seu desalinho: o primeiro dia de aula, o primeiro emprego, o primeiro filho… Entre tantas outras estreias. Fato é que, como dizem, o ser humano não vem acompanhado de um manual de instruções.
Desvendar os mecanismos desses seres é um dos grandes desafios das ciências humanas, que como todos sabem, não romantizam a exatidão, mas se convergem em diversas respostas.
Sempre preferi investigar o ser humano, desde muito cedo esse objeto de estudo, se assim posso dizer, me instiga por abrir as portas para um universo complexo.
Na vida escolar saía bem em matemática, porém, que me perdoem os meus professores dessa matéria, não flertava muito com o universo dos números. Não foi por coincidência que me encontrei no Direito e nas Letras. Trilhei este caminho, com a certeza de que estava na direção que correspondia meus jovens anseios.
Atualmente, vem me perturbando durante dias o fato de que, paradoxalmente, o ser humano, de modo geral, está constantemente em busca do modo de vida que entende perfeito, do corpo perfeito, do relacionamento perfeito, e, ao passo dessas buscas, crescem as soluções rápidas que são difundidas nos mais diversos meios de comunicação: professores de etiqueta, profissionais de coaching e até influencers digitais dão dicas de como alcançar o melhor modo de viver e se comportar.
Acredito que, por vezes, há quem esqueça da singularidade humana, esqueça que nem sempre o sapato do outro servirá no próprio pé, que a caixa do outro, por mais confortável que pareça, às vezes não lhe caberá, pois não existe felicidade emprestada, cada um tem a sua receita de bolo.
Diferentemente do resultado correto e imutável de uma operação matemática, os seres humanos não têm obrigação com os acertos, pelo simples fato de que a contradição mora em sua essência e a mudança é a verdadeira “constante” humana. Porém, temos obrigação com as tentativas e com os resultados, porque, se saudáveis, somos seres conscientes.
Tenho medo dos que se dizem cem por cento bons, de edifícios prematuramente acabados, porque uma viga fora do lugar e oculta pode ruir toda a estrutura. Acredito naqueles que de espírito contrito tentam melhorar sempre, que buscam positivamente a mudança, sem pretensão de ficarem prontos e estáticos.
Acredito também naqueles que estão sempre reiniciando: ora estreando em algo novo, vencendo o medo, ousando mudar de rota, ora iniciando novamente o mesmo caminho, mais fortes do que antes, por revisarem seus erros.
Apavora-me a sensação de perfeição, pois tenho a vida como um contrato de teste a longo prazo, onde é permitido errar, pois esta é a forma mais pedagógica de aprender, contudo não é permitido carregar o equívoco como amuleto.
Nessa escola, da qual nunca sairemos plenamente formados, sairemos, se dedicados, carregando na mochila o autoconhecimento. Nessa escola só reprova quem se esconde do erro e quem desiste de acertar.
Afinal, o que realmente importa não é esperar uma nota dez para recomeçar, porque, ao final, compreender o universo de si próprio vale mais do que qualquer diploma.
ADAÍLTON ALMEIDA, escritor, integra a Associação Cultural dos Escritores de Passos e Região, cujos membros se revezam na autoria de textos desta coluna aos sábados