LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO
Aída Curi, vítima de curra – Parte 4
Durante o processo, que foi longo e repleto de surpresas e imprevistos, inclusive com tentativas de fraudes, a defesa, é claro, tentou afirmar que Aída Curi teria se suicidado, se lançando do 12º andar do edifício. A defesa tentou emplacar que foi a única maneira que ela encontrou para não ser violentada, escapando dos ataques dos rapazes, Ronaldo, Cássio e Antônio, este último, o porteiro. No entanto, havia evidências que provavam o contrário, uma delas, o lenço manchado de sangue, na bolsa dela.
Ferimentos nos lábios por conta da bofetada que Ronaldo lhe desferiu, como o próprio confessou, era também uma evidência. Ele também confessou ter rasgado as roupas da jovem, inclusive as roupas íntimas. A anágua foi achada toda ensanguentada. Vários outros indícios foram encontrados, como os ferimentos puntiformes e em semicírculo no rosto. O diâmetro coincidia com o anel usado pelo porteiro.
Tudo isso, segundo informações, foi desprezado pelo júri. No prédio, no lado externo da parede do parapeito, no terraço, havia marcas das sandálias da jovem. As sandálias rasparam a parede quando ela foi lançada do prédio. Era uma prova de que ela não se jogou, foi atirada. O corpo, também, foi rente ao prédio, o que seria mais difícil ou quase impossível se ela tivesse pulado. Apareceram, também, sinais, indícios de que os rapazes tentaram alterar a cena do acontecimento.
Os livros de Aída Curi estavam bem junto ao corpo. Ou ela estava segurando os livros, pouco provável, pelo tanto que apanhou e havia desfalecido, ou foram colocados bem próximo ao corpo, ou, ainda, caíram bem junto ao corpo, algo difícil de acreditar. Ela já estava desfalecida! Os livros só poderiam estar numa bolsa (ou sacola) presa ao seu corpo, seria a única explicação plausível! Ela havia lutado durante trinta minutos com os agressores, antes de desfalecer.
Quanto ao pai de Ronaldo, Edgard Castro, o que sempre protegeu as maluquices criminosas do filho, desconfiou-se ou foi até provado, que contratou um moça pelo nome de Zilza Maria Fonseca, para servir de álibi para seu filho. Ela afirmou estar com Ronaldo no momento em que Aída Curi foi lançada do edifício. Ela e Ronaldo estavam sentados num banco na Avenida Atlântica, conversando, no mesmo horário do crime. Só que, no julgamento, a moça não se apresentou, não compareceu.
A defesa, então, resolveu levar uma outra testemunha: Lecy Gomes Lopes. Lecy afirmou que viu Zilza e Ronaldo juntos, justamente na hora do crime. Algo estranho, pois, não deveriam levar a Zilza, em vez de levar uma outra pessoa alegando ter visto a Zilza com Ronaldo na mesma hora do crime? A famosa revista da época, O Cruzeiro, afirmou que os depoimentos de Lecy e de Ronaldo tiveram contradições.
Vejamos: ela disse que estava passeando com sua filha e a empregada e foram descansar num banco da Avenida Atlântica, em frente à Rua Djalma Ulrich. Ali, já se encotravam Ronaldo Castro e Zilza Maria Fonseca, parecendo formar um casal. Ronaldo Castro já afirmou que andava pela praia com Zilza, estavam passeando. Quando chegaram ao banco que Lecy informou, já estavam alí uma senhora, uma moça e uma criança de três anos. Acertou exatamente a idade da criança, hein! Será? Tudo indicou que Lecy mentia.
Disse que Zilza era loira, mas não era, era morena. Disse, também, que Zilza cantava um música de Mayza (antes: Maysa Matarazzo) e a letra fala várias vezes a palavra você. Deveria ser a canção “Por causa de Você”. Interessante, o crime foi em 1958, Maysa gravou tal música em 1959, ou seja, após o crime.
Os julgamentos foram polêmicos. Ronaldo, no primeiro julgamento, teve condenação de 37 anos e seis meses de prisão. Pela morte da jovem, 25 anos. O restante dos anos, por atentado violento ao pudor e tentativa de estrupro. O porteiro Antônio levou uma condenação de trinta anos. Cássio, considerado o verdadeiro assassino, não pode ser julgado pela condição de ser menor.
Aconteceram ainda mais dois julgamentos, polêmicos.
Difícil de entender como funciona a justiça dos homens. É claro, juíz age baseado em provas e leis, pelo menos, foi o que me ensinaram! Acredito que o júri também! Todavia, pelo histórico da ficha do tal Ronaldo e a proteção que sempre recebeu do pai, como informou sua própria prima, muitos questionamentos ficaram no ar.
LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO, professor de oratória e de técnica vocal para fala e canto em Carmo do Rio Claro/MG, ex-professor do ensino comercial com reg. no MEC, formado no curso normal superior pela Unipac. E-mail: luizguilhermewintherdecastro@hotmail.com