DÉCIO MARTINS CANÇADO
Você é quem decide
Estava no Mercadão, em São Paulo, 2º andar, no final de uma manhã de domingo, degustando um delicioso pastel de bacalhau, quando observei uma mulher que, com sua família, em mesa próxima, mostrava-se nervosa, com semblante fechado, gesticulando bastante. De repente, pegou o prato com um sanduíche, levantou-se e dirigiu-se ao balcão, voltando em seguida.
Quando veio o garçom, continuou a falar de maneira enérgica, mostrando alguma coisa referente àquele sanduíche (talvez a carne estivesse mal passada), enquanto ele, pacientemente, tentava lhe dar explicações. Daí a pouco, levantaram-se e deixaram o local, demonstrando ainda muita contrariedade.
Comentei com minha esposa que aquela senhora estava desgastando-se muito por muito pouco, naquela bela e fria manhã, ao invés de relaxar e curtir junto à família aquele tempo de lazer, mesmo se houvesse alguma coisa errada com o lanche.
Lembrei-me, então, de um texto de Stephen Covey, denominado ‘O princípio 90/10’. Ele nos diz que apenas 10% da vida estão relacionados com o que ‘acontece’ com você, e que os outros 90% estão relacionados com ‘a forma’ como você reage ao que acontece.
Isso significa que não temos ‘nenhum controle’ sobre apenas 10% do que nos sucede, como por exemplo: não podemos evitar que o carro enguice, que o avião atrase, que o semáforo fique vermelho! Nós é que determinaremos a nossa reação, os outros 90%.
Como primeiro exemplo, ele nos conta o seguinte: “Você está tomando o café da manhã com a família. Sua filha pequena, ao pegar a xícara, deixa o café cair na sua camisa branca. Como foi dito acima, você não tem controle sobre isto, foi apenas um acidente, como acontece com qualquer pessoa. O que virá em seguida, sim, será determinado por sua reação. Vejamos: na primeira hipótese, você se irrita, repreende severamente sua filha e ela começa a chorar.
Em seguida, censura sua esposa por ter colocado a xícara na beirada da mesa, e logo em seguida tudo se transforma numa batalha verbal. Contrariado e resmungando, você vai mudar de camisa e, quando volta, encontra a menina chorando, ainda, e ela acaba perdendo o transporte para a escola.
Sua esposa, muito nervosa, vai para o trabalho, contrariada. Daí, você tem que levar sua filha, de carro. Como está atrasado, dirige em alta velocidade e o guarda o para. Depois de quinze minutos e uma multa, vocês chegam à escola, onde sua filha entra, sem se despedir, não sem antes você ter que dar explicações à direção pelo atraso.
Chegando ao escritório, percebe que esqueceu a maleta. Seu dia começou mal e parece que vai ficar pior, pois, esperando descansar depois do trabalho, quando chega em casa, sua esposa e filha estão de cara fechada, em silêncio e frias com você. Por que tudo aconteceu? Por causa de sua ‘reação’ ao que aconteceu de manhã, ou seja, você não teve controle sobre a xícara de café, que caiu e sujou a camisa, mas ‘o modo como você reagiu’ foi o que acabou com o seu dia.
Vamos imaginar uma cena diferente da anterior. O café cai na sua camisa. Sua filha se assusta e começa a chorar. Então, você diz a ela, pacientemente: “Está tudo bem, querida, você só precisa ter mais cuidado da próxima vez”! Depois de trocar a camisa e pegar a pasta de trabalho, você volta, olha pela janela e vê a filha pegando o transporte escolar.
Dá um sorriso e ela retribui, acenando com um adeus. Você dá um beijo em na esposa e ambos saem para o trabalho, em harmonia e paz. É muito fácil notarmos a diferença. Duas situações inicialmente iguais, que terminam muito diferentes, porque as consequências, que representam os 90% de tudo o que aconteceu, foram determinadas pela sua reação”.
Quantas vezes algo semelhante acontece em nossas vidas! Por isso, se alguém não o cumprimenta, ou diz algo negativo sobre você, não leve a sério, não deixe que as situações e os comentários ruins o afetem. Reaja apropriadamente e seu dia não ficará arruinado. Se alguém o atrapalha no trânsito, não fique transtornado, dando golpes no volante, xingando, permitindo que sua pressão suba.
Se, por acaso, perdeu o emprego, não perca o sono e não fique chateado. Isso não resolverá o seu problema. Use a ‘energia’ da preocupação para procurar outro trabalho. Se seu voo está atrasado e vai modificar a sua programação, de nada vai adiantar manifestar a frustração com o funcionário do aeroporto. Ele não poderá fazer nada.
Use o tempo de espera para ler algo útil, estudar ou conhecer outros passageiros. Não permita que outra pessoa decida como você vai agir. Não se curve diante de qualquer vento que sopra, nem fique à mercê do mau humor, da mesquinharia e da impaciência dos outros.
Não são os ambientes que nos transformam; nós os transformamos. Ninguém poderá estragar o seu dia, a menos que você permita!