CARLOS J. F. LOPES
Rua dos Bobos, número zero
Existem inúmeras opções de moradias disponíveis, desde casas próprias, alugadas, das quais podem pertencer a amigos, namoradas, pais, avós, até repúblicas, locações temporárias e casas de praia, entre outras. No entanto, uma em particular sempre esteve presente em minha mente: a famosa “casa muito engraçada”.
Aquela mesma que escutávamos falar desde a infância, sem teto, sem chão, sem banheiro e sem paredes. Durante toda minha vida, fiquei imaginando como poderia ser uma moradia assim e, em certo momento, tive a oportunidade de descobrir por mim mesmo.
Foi como magia, Insight, revelação ou simplesmente acaso. Estava lá, minha esposa gravida de oito meses do meu terceiro filho, o Heitor, e como sou um pai coruja, não perdia a oportunidade de conversar e cantar para ele. E em um desses momentos de entrega acariciando a barriga da mamãe e cantando canções infantis para o Heitor, buscando fortalecer o vínculo e compartilhar os primeiros momentos de uma vida ainda escondida. Me veio à mente e aos lábios a letra da música “Era uma casa muito engraçada”, e uma ideia surgiu em minha mente.
Aquela canção simples e pura parecia descrever perfeitamente a experiência da gestação. Cada verso refletia a peculiaridade e a beleza de transformar a barriga de uma mamãe em um lar temporário para o bebê. Era como se a letra tivesse sido escrita especialmente para retratar a fase única e encantadora da gravidez.
Era uma casa peculiar, situada em um lugar mágico conhecida como barriga de uma mamãe grávida. Lá dentro, não existiam paredes nem teto, apenas um espaço aconchegante onde o pequeno Heitor estava sendo formado e preparado para vir ao mundo.
Ninguém podia entrar naquela casa, pois ela era sagrada e reservada apenas para a mamãe e seu precioso bebê. Na casa da barriga, não havia chão, pois as pernas da mamãe sustentavam e protegiam o pequeno ser, como uma fundação sólida e protetora.
O bebê estava cuidadosamente acomodado naquela casa/ninho, confortável pronta para recebê-lo. Ali, não havia necessidade de redes para descansar, já que o útero oferecia aconchego e segurança em todos os momentos.
Naquela casa não existiam paredes, pois o útero era o abraço caloroso e protetor da mamãe, envolvendo e cuidando do bebê em cada instante.
Não havia lugar para fazer pipi naquela casa, pois ali dentro, o bebê e a mamãe estabeleciam uma troca perfeita de nutrientes e oxigênio, sem a necessidade de um pinico.
Essa casa era construída com amor e dedicação, localizada na “Rua dos Bobos, papai e mamãe, número zero”, representando a jornada feliz de uma gestação cheia de carinho. Cada detalhe era planejado e executado com esmero, desde a formação dos órgãos até o crescimento dos membros do bebê, tudo acontecendo de forma mágica e inexplicável.
A música tornou-se, então, uma trilha sonora especial para o papai, a mamãe e o filho, embalando-os em momentos de ternura e cumplicidade. A letra se transformou em uma narrativa que ecoava nas mentes e corações daquela família ansiosa pela chegada de mais uma bênção.
Assim, seria a rotina nos dias seguintes, a família vivenciaria intensamente cada etapa da gravidez. A barriga da mamãe tornou-se o lar mais especial que poderiam imaginar, abrigando sonhos e esperanças enquanto Heitor se preparava para conhecer seu novo lar fora daquela casa da canção de ninar.
O dia mais esperado será o do nascimento, onde o Heitor locatário, trocará as chaves da “casa muito engraçada”, por outras que lhe abrirão portas para um novo capítulo repleto de descobertas e emoções. No entanto, as memórias daquela fase tão especial permanecerão vivas, para sempre presentes no coração daquela família que encontrou na simplicidade de uma canção a magia de transformar cada momento da gravidez em pura poesia.
CARLOS J. F. LOPES, psicólogo, escritor, integra a Associação Cultural dos Escritores de Passos e Região, cujos membros se revezam na autoria de textos desta coluna aos sábados