PAULO ROBERTO CORÓ FERREIRA

O benzedor de cigarros e cachaça

Um dia eu estava no ponto de táxi do Carmo, em frente à rodoviária, e resolvi ir na tabacaria do Biratã para ouvir histórias, como sempre.
Eu estava lá na tabacaria e aí chega o Rafaelzinho, irmão do Biratã. Ele e o Pedro me lembraram de um fato ocorrido no Carmo há muitos anos.
Chegou na cidade certa vez um caminhão que foi estacionado em frente à casa que hoje é da Vera do Zé do Lídio, mas que na época era do Dr. Jorge Moisés, em frente ao ponto de táxi da rodoviária. E o motorista do caminhão começou a anunciar que benzia maços de cigarros e garrafas de cachaça e que quem levasse um pacote de cigarros ou um litro de cachaça, largaria o vício em 5 dias. Logo a notícia se espalhou, todos enaltecendo a grande capacidade do benzedor, e a rua ficou movimentada por 4 dias.
Toda hora chegava gente levando pacotes de cigarro e garrafas de cachaça. O homem fazia lá uns gestos de benzimento, muito concentrado e sério, recebia os cigarros ou a cachaça, ia colocando tudo na carroceria do caminhão e logo atendia outros “clientes”. Deu para notar que muita gente bebia e muita gente fumava em Carmo do Rio Claro, pois sempre tinha fila perto do caminhão. No quinto dia o caminhão havia sumido. Anoiteceu e não amanheceu. Segundo o Hélio Magrelo, que morava ali perto, o caminhão já estava com a carga quase completa.
Como ninguém parou de fumar ou de beber por causa das benzeções, o jeito foi continuar bebendo e fumando para tentar esquecer o prejuízo.

PAULO ROBERTO CORÓ FERREIRA é carmelitano, pós-graduado em Ciência da Computação pela UFMG. É autor do livro “Viagem pela Alma Carmelitana”, lançado em 2021, com as histórias de sua terra.