Ícone do site Folhadamanha

Dia a Dia

PAULO ROBERTO CORÓ FERREIRA

Cabo Verde e a nota de 10 reais

Cabo Verde era um homenzinho pequeno, olhos vivos, fisionomia alegre e que sempre usava um chapéu marrom aveludado, já meio surrado, da famosa marca Cury. Usava também óculos bifocais com lentes fundo de garrafa e uma grossa armação preta.
Cabo Verde era agrimensor e suas ferramentas de trabalho eram algumas correntes, dois pequenos lápis, que ele apontava de vez em quando, e uma pequena caderneta para anotações. Era muito requisitado e praticamente nunca ficava à toa, estava sempre medindo algum pedaço de terra para alguém. Seu trabalho era admirado por todos, pois poucos entendiam como ele conseguia obter o tamanho exato das propriedades usando apenas as ferramentas que tinha.
Um dia Cabo Verde foi ao Banco do Brasil trocar um cheque que recebeu por um serviço executado. Ao chegar no caixa, apresentou o cheque, o caixa consultou e começou a contar o dinheiro. Cabo Verde ao ver as notas que o caixa ia lhe passar, perguntou:
– “Seo” caixa, essa notinha vermelha aí, que nota é? Eu não a tinha visto ainda.
– “Seo” Cabo Verde, esta é a nova nota de 10 reais. Novinha em folha. Ela é de plástico, o senhor notou?
– Por favor, me passe uma para eu ver.
O caixa lhe deu uma das notas e Cabo Verde, meio desconfiado, passou o polegar e o indicador pela nota e retrucou:
– “Seo” caixa, vamos fazer o seguinte: vamos esperar ela ‘firmar’ mais um pouquinho, né? Troque todas para mim pelas antigas mesmo, por favor.

PAULO ROBERTO CORÓ FERREIRA é carmelitano, pós-graduado em Ciência da Computação pela UFMG. É autor do livro “Viagem pela Alma Carmelitana”, lançado em 2021, com as histórias de sua terra.

Sair da versão mobile