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Dia a Dia

PATRÍCIA PEREIRA

Papo sério

Há tantas coisas para se falar.
Poderia ser sobre como a violência doméstica se esconde na vida de mulheres lindas e influentes. Acredite se quiser, mulheres famosas também estão sujeitas à crueldade dos relacionamentos abusivos.

Conversar sobre cirurgias estéticas e seus riscos, maiores ou menores, conforme a escolha do profissional e do suporte hospitalar. Acredite se quiser, meninas jovens e lindas podem entrar numa mesa cirúrgica atrás de um sonho e causar um pesadelo na família e nos amigos.

Ou até mesmo dar um pitaco sobre o tema da redação do Enem A invisibilidade do trabalho da mulher, que de “tão pequenino” muitos alunos não perceberam do que se tratava. Acredite se quiser, mesmo com toda a sobrecarga de trabalho nos ombros femininos, para a sociedade isso é algo natural.

E mesmo com tantos temas borbulhando, hoje escolhi puxar um assunto muito usado quando não se tem assunto, em especial, quando estamos dentro dos elevadores: “Gente, o calor está quente.”

Quando eu era adolescente, não havia nada mais desejado do que um lindo bronzeado de sol. Usávamos bronzeadores e coca-cola para realçar a marquinha de biquíni. Felizmente fui poupada do chá de folha de figo responsável por queimaduras de segundo grau nas incautas.

Os meus melanócitos eram mais do que preguiçosos e o máximo que eu conseguia era um vermelho ardido seguido por descascados em forma de biscoitinhos.
Certa vez, na adolescência, a despeito da pele branca, decidi ser morena-jambo. Para isso quarei no sol escaldante por quatro horas ininterruptas.

Quando terminei minha sessão bronze, senti-me desconfortável. De repente, a pele estava insuficiente para acomodar os ossos do corpo e tudo repuxava. O susto aumentou quando não encontrei os meus olhos no reflexo do espelho, eles haviam desaparecido debaixo do inchaço da pele provocado pela queimadura solar.

Chegando em casa, foi uma comoção geral. Sugeriram água fria, pomada calmante, leite de aveia Davene e até me esconder para que os meus pais não vissem a minha estupidez.
Mas como me esconder? Sem chance. O congelador estava cheio.

Por muita sorte, tomei o bronze apenas numa posição, deitada de frente para o sol. As costas estavam íntegras. Passei a noite sem sono, sem mexer, sem roupa. O leve lençol que cobria o corpo ficava preso na ponta de cima e na ponta de baixo, pelos dentes e pela pega criada entre o dedão e o segundo dedo, respectivamente. De forma, que o tecido esticado não encostasse na barriga bolhosa minando água.

Essa quentura aqui no Brasil e a surtada do clima ao redor do planeta trouxeram-me uma reflexão. A partir de quando iremos usar a janela? Aqui não falo literalmente, mesmo porque com esse calorão, nenhuma janela resolve. Falo daquela sugerida pelos ambientalistas, de aproveitarmos o pequeno prazo que ainda temos para tentar reverter os efeitos climáticos decorrentes de um desenvolvimento sem sustentabilidade.
Já não se trata mais das gerações futuras, dos nossos netos e bisnetos. Devemos cuidar por hoje, pelo agora, por nossos filhos e por nós mesmos.

PATRÍCIA LOPES PEREIRA SANTOS, graduada em odontologia (PUCMG) e direito (Fadipa), mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional (Unifacef- Franca) e Especialista em Direito Público (Faculdade Newton de Paiva), é servidora pública do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. E-mail: acitripa70@ gmail.com

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