PAULO ROBERTO CORÓ FERREIRA

Bar do ‘Bermiro’ e o Troco

O Bar do Bermiro é o mais antigo bar da cidade e funciona até hoje. Frequentava o bar o Funcho (Afonso) que certa vez, já meio “alto”, pagou a conta, recebeu o troco e saiu. Meio cambaleante foi conferindo o troco enquanto andava de volta para casa, quando notou que o troco estava errado e voltou ao bar.
– Bermiro, o troco está errado.
Bermiro, muito sistemático, respondeu na lata:
– Problema seu Funcho. Troco tem que conferir na hora. Não aceito reclamação depois que saiu do bar.
E o Funcho:
– Tá bão, você devolveu R$ 10,00 a mais.
E saiu. E o Bermiro:
– Volta aqui Funcho, me devolve os R$ 10,00.
E o Funcho gritou lá da calçada:
– Não volto. Agora o problema é seu.
Após a morte do Belmiro o Dito continuou “tocando” o bar. Dito sempre tentava receber os fiados que ficaram para trás, da época do Belmiro. Um dos devedores era o Marçal, um pretinho que também gostava dumas biritas. Certo dia, ao passar pelo bar, o Dito resolveu cobrar a antiga continha:
– Marçal, tem um valor que você ficou devendo, da época do Bermiro.
E o Marçal:
– Dito, chama o Bermiro prá mim.
E o Dito:
– O Bermiro já morreu Marçal, você sabe.
E novamente o Marçal:
– Então Dito, eu não tenho negócio com você, meu negócio é com o Bermiro. Se ele não pode me atender, para você eu não pago.

PAULO ROBERTO CORÓ FERREIRA é carmelitano, pós-graduado em Ciência da Computação pela UFMG. É autor do livro “Viagem pela Alma Carmelitana”, lançado em 2021, com as histórias de sua terra.