Dia a dia

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14 de novembro de 2023

DÉCIO MARTINS CANÇADO

Triste eucalipto

Viajando por este Sudeste do país, vê-se, cada vez mais, aumentarem as lavouras de Eucalipto. Você já notou a tristeza dessa plantação? Parece uma fileira imensa de postes fincados no chão, buscando a luz do sol, com a única finalidade de sobreviver.

Eles são frios e, até mesmo, ‘egoístas’, pois ao seu redor não se veem pássaros, a não ser de passagem, pois ali não encontram as condições necessárias para fazer os seus ninhos e habitar com segurança e aconchego. A estrutura vertical dos galhos não favorece a instalação de ninhos acolhedores. Eles não oferecem flores nem frutos.

Geralmente, o vento passa, balança as folhas e nada mais. A seus pés, a vegetação é pouca e sem expressão. A terra vai ficando cada vez mais seca, à medida que se fazem os cortes. Não se vê a terra molhada das chuvas. As nascentes próximas vão secando rapidamente. Chega até a causar arrepios. Afinal, ele é cultivado para ser cortado, queimado, transformado e dar lucro. É planta para a morte.

Frequentemente, planta-se o eucalipto onde, em outros tempos, reinava a mata nativa, mais generosa, mais “social”, com uma diversidade imensa de árvores frondosas, frutíferas, com flores, acolhendo os ninhos de passarinhos. Umas enormes, outras pequenas, mas numa perfeita harmonia, tudo combinando para que todos ao seu redor se beneficiassem. “Coisas de antigamente”, dirão alguns. “Atraso de vida”, dirão outros.

Mas, para quem plantou o eucaliptal, para aquele que vê apenas o dinheiro no que faz, o eucalipto significa lucro rápido, barato e sem muito trabalho. Planta-se, e depois é só aguardar o crescimento por uns poucos anos e pronto. É só cortar e lá vem o dinheiro certo em função do carvão, da fabricação de papel, etc. A indústria arregala os olhos, satisfeita com os resultados financeiros em curto prazo. Assim, o Eucalipto aparece como um estranho invasor, poderoso e forte, que elimina a convivência com outras espécies e outras culturas.

Ele veio trazido da Austrália, país distante, e rapidamente tomou conta de grandes áreas de matas nativas, mas… gerou problemas para a Natureza. Sumiram os pássaros e os animais, secaram as fontes, a terra se tornou árida e arenosa, improdutiva.

O lucro correu solto nos seus primeiros trinta anos e depois… erosão da terra e fim de história. Não se pensou nas consequências que, fatalmente, deveriam vir.
Também o Brasil “exportou” culturas, como a seringueira, aquela da borracha. Dizem até que os “gringos” têm levado da Amazônia plantas para estudar em laboratórios, a fim de descobrir remédios e produtos que, depois, nós importamos com ‘direitos autorais’, como se fossem originários do lado de lá.

Dialogando com tais lembranças e olhando outros tipos de ‘importações’, vamos descobrir outras culturas trazidas para nossa gente. Assim é a ‘importação’ da música, da arte, da moda, da cultura, no campo político, econômico e, até, religioso.

Não é difícil perceber que a chamada música ‘caipira’, disfarçadamente apelidada pela mídia de ‘música de raiz’, existe sim, mas não interessa muito ser levada a sério pelas ‘antenas’, pois interessa mais divulgar o ‘importado’, ritmos e tendências de gosto duvidoso, mas que vendem muito mais e dão lucros mais fáceis. Dos produtos eletrônicos, confecções e calçados, então, nem se fala.

De acordo com a História, são muitas as formas de coisas ‘importadas’ por todos os países, quando foram levadas de fronteira em fronteira, sobrepondo-se às crenças e ao modo de vida dos nativos de um determinado lugar, acompanhando a “Era dos Descobrimentos”, impondo-se, às vezes, pela força.

Populações inteiras, lamentavelmente, foram dizimadas para que a religião, os costumes, a língua e a cultura de determinado povo fossem implantadas no lugar ‘descoberto’, dano que jamais poderá ser reparado, pois aquilo que era próprio de um povo perdeu-se com o passar do tempo. Tudo isso aconteceu de modo semelhante às plantações de eucaliptos, que se impõe à mata nativa, pura e simplesmente, para secar e substituir o que já existia por aqui.

Faz-se necessário uma reflexão sobre esse assunto para que possamos entender as raízes e as consequências do conflito entre o ocidente e o oriente, entre muçulmanos e cristãos, entre as nações poderosas e as que não querem se sujeitar ao domínio estrangeiro, que visa, principalmente, a exploração de reservas naturais, estratégicas para sua indústria e para o lucro, como o minério e o petróleo, por exemplo. Há que se refletir e se ter bom senso para que países poderosos não façam morrer uma cultura estrangeira, como faz o insensível eucalipto.